Ferreira Gullar (José Ribamar Ferreira), nasceu no dia 10 de
setembro de 1930, na cidade de São Luiz, capital do Maranhão, quarto filho dos
onze que teriam seus pais, Newton Ferreira e Alzira Ribeiro Goulart. Inicia
seus estudos no Jardim Decroli, em 1937, onde permanece por dois anos. Depois,
estuda com professoras contratadas pela família e em um colégio particular, do
qual acaba fugindo. Em 1941, matriculou-se no Colégio São Luís de Gonzaga,
naquela cidade. Aprovado em segundo lugar no exame de admissão do Ateneu
Teixeira Mendes, em 1942, não chega a concluir o ano letivo nesse
colégio. Ingressa na Escola Técnia de São Luís, em 1943. Apaixonado por uma
vizinha, Terezinha, deixa os amigos e passa a se dedicar à leitura de livros
retirados da Biblioteca Municipal e a escrever poemas. Na redação sobre o Dia
do Trabalho, onde ironizava o fato de não se trabalhar nesse dia, em 1945,
obtém nota 95 e recebe elogios pelo seu texto. Só não obteve a nota máxima em
virtude dos erros gramaticais cometidos. Face ao ocorrido, dedica-se ao estudo
das normas da língua. Essa redação foi inspiradora do soneto O trabalho, primeiro poema publicado
por Gullar no jornal O Combate,
de São Luís, três anos depois. Torna-se locutor da Rádio Timbira e colaborador
do Diário de São Luís, em 1948. Editado
com recursos próprios e o apoio do Centro Cultural Gonçalves Dias, publica seu
primeiro livro de poesia, Um pouco acima
do chão. Em 1950, após haver presenciado o assassinato de um operário pela
polícia, durante um comício de Adhemar de Barros na Praça João Lisboa, em São
Luís, nega-se a ler, em seu programa de rádio, uma nota que aponta os
"baderneiros" e "comunistas" como responsáveis pelo
ocorrido. Perde o emprego, mas é convidado para participar da campanha política
no interior do Maranhão. Vence o concurso promovido pelo Jornal de Letras com o poema O
galo. A comissão julgadora era formada por Manuel Bandeira, Odylon Costa
Filho e Willy Lewin. Começa a escrever poemas que, mais tarde, integrariam seu
livro A luta corporal. Muda-se
para o Rio de Janeiro (RJ), em 1951. Passa a trabalhar na redação da Revista do Instituto de Aposentadoria e
Pensão do Comércio, para onde foi indicado por João Condé. Torna-se amigo
do crítico de arte Mário Pedrosa. A publicação de seu conto Osiris come flores, na Revista Japa, rende-lhe mais um emprego:
o de revisor da revista O Cruzeiro,
por indicação de Herberto Sales, que se encantou com o conto publicado. Vai até
a cidade de Correias, no Rio de Janeiro, onde, por três meses, trata-se de uma
tuberculose. Oswald de Andrade, que havia lido A luta corporal, texto inédito e recém-concluído de Gullar, no
dia de seu aniversário, em 1953, presenteia-o com dois volumes teatrais de sua
autoria: A morta, O Rei da Vela, e O homem a cavalo. Em 1954, casa-se com a atriz Thereza Aragão, com
quem teve três filhos: Paulo, Luciana e Marcos. Lança A luta corporal, que causou desentendimentos com os tipógrafos em
função do projeto gráfico apresentado. Após sua leitura, Augusto e Haroldo de
Campos e Décio Pignatari manifestam-lhe, por carta, o desejo de conhecê-lo. No
fim desse ano, passa a trabalhar como revisor na revista Manchete. Seu encontro com Augusto de Campos se dá às vésperas do
carnaval de 1955, resultando inúmeras discussões sobre a literatura. Trabalha como
revisor no Diário Carioca e, posteriormente,
engaja-se no projeto Suplemento dominical
do Jornal do Brasil. A convite do
trio de escritores paulistas acima citados, participa da I Exposição Nacional
de Arte Concreta, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 1956. Em janeiro do
ano seguinte, o MAM carioca recebe a citada exposição. Gullar discorda
da publicação do artigo Da psicologia da
composição à matemática da composição, escrito pelo grupo concretista de
São Paulo. Redige resposta intitulada Poesia
concreta: experiência fenomenológica. Os dois textos são publicados lado a
lado na mesma edição do Suplemento
Dominical. Com seu artigo, Gullar marca sua ruptura com o
movimento. Em 1958, lança o livro Poemas.
No ano seguinte, escreve o Manifesto
Neo-concreto, publicado no Suplemento
Dominical e que foi também assinado
por, entre outros, Lygia Pape, Franz Waissman, Lygia Clark, Amilcar de Castro e
Reynaldo Jardim. Ali também foi publicado Teoria
do não-objeto. Criou o livro-poema
e o Poema enterrado, que consistia de
uma sala subterrânea, dentro da qual havia um cubo de madeira de cor
vermelha, dentro desse outro, verde, de menor diâmetro, e, finalmente, um
último cubo de cor branca que, ao ser erguido, permitia a leitura da palavra Rejuvenesça. Construído na casa do pai
do artista plástico Hélio Oiticica, a "instalação" não pode ser vista
pelo público: uma inundação, provocada por fortes chuvas, alagou a sala e
destruiu os cubos. É nomeado, em 1961, com a posse de Jânio Quadros, diretor da
Fundação Cultural de Brasília. Elabora o projeto do Museu de Arte Popular e
inicia sua construção. Revê sua postura poética, até então muito marcada pelo
experimentalismo, e passa a não atuar nos movimentos de vanguarda. Fica no
cargo até outubro/61. Emprega-se, em 1962, como copidesque na filial carioca do
jornal O Estado de São Paulo, para o
qual trabalharia por 30 anos. Ao mesmo tempo, ingressa no Centro Popular de
Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC). Publica João Boa-Morte, cabra marcado para morrer e Quem matou Aparecida. Assume, com essas publicações, uma nova
atitude literária de engajamento político e social. No ano seguinte é eleito
presidente do CPC. Lança o ensaio Cultura
posta em questão. Em 1964,
a sede da União Nacional dos Estudantes (UNE) é invadida
e a primeira edição do citado ensaio acaba queimada. No dia 1º de abril de
1964, filia-se ao Partido Comunista Brasileiro. Ao lado de Oduvaldo Viana
Filho, Paulo Pontes, Thereza Aragão, Pichin Pla, entre outros, funda o Grupo Opinião. Em 1966, a peça Se correr o bicho pega, se ficar o bicho
come, escrita em parceria com Oduvaldo Viana Filho, é encenada pelo Grupo Opinião no Rio de Janeiro, e conquista os prêmios Molière e Saci.
No ano seguinte o mesmo grupo encena, também no Rio, a peça A saída? Onde está a saída?, escrita em
parceria com Antônio Carlos Fontoura e Armando Costa. Por você, por mim, poema sobre a guerra do Vietnã, é publicada em
1968, juntamente com o texto da peça Dr.
Getúlio, sua vida e sua glória, escrita em parceria com Dias Gomes e
montada nos teatros Opinião e João Caetano,
no Rio de Janeiro, com a direção de José Renato. Com a assinatura do Ato
Institucional nº 5, é preso, em companhia de Paulo Francis, Caetano Veloso e
Gilberto Gil. Em 1969, lança o ensaio Vanguarda
e subdesenvolvimento. 1970 marca sua
entrada na clandestinidade. Passa a dedicar-se à pintura. Informado por amigos,
em 1971, do risco que corria se continuasse no Brasil, decide partir para o
exílio, morando primeiro em Moscou (Russia) e depois em Santiago (Chile), Lima
(Peru) e Buenos Aires (Argentina). Durante esse período, colabora com o
semanário O Pasquim, sob o pseudônimo de Frederico Marques. Seu pai
falece em São Luís (MA). Em 1974, por unanimidade, é absolvido no Supremo Tribunal
Federal, da acusação. Publica, em 1975, Dentro
da noite veloz. O Poema sujo é
escrito entre maio de outubro desse ano. Em novembro, lê o novo trabalho na
casa de Augusto Boal, em Buenos Aires, para um grupo de amigos. Vinicius de
Moraes, que organizou a sessão de leitura, pede uma cópia do poema para trazer
ao Rio. Por precaução, o poema é gravado em fita cassete. No Rio, Vinicius
promove diversas sessões para que intelectuais e jornalistas ouvissem o Poema sujo. Ênnio Silveira, editor, pede
uma cópia do texto para publicá-lo em livro. Enquanto isso não acontece,
diversas cópias da gravação circulam pela cidade em sessões fechadas de
audição. No ano seguinte, sem a presença do poeta, o Poema sujo é lançado,
enquanto Gullar dá aulas particulares de português em Buenos Aires,
para poder sobreviver. Amigos tentam um salvo-conduto junto às autoridades
militares, procurando obter garantias para que ele volta ao país. Somente em 10
de março de 1977 desembarca no Rio. No dia seguinte, é preso pelo Departamento
de Polícia Política e Social, órgão sucessor do famoso DOPS. As ameaças feitas por agentes policiais, que se estendiam a
membros de sua família, só terminaram após 72 horas de interrogatórios, ocasião
em que é libertado face à movimentação de amigos junto às autoridades do regime
militar. Retorna, aos poucos, às atividades de crítico, poeta e jornalista.
Lança Antologia Poética. La lucha corporal y
otros incendios é publicada em Caracas, Venezuela. No ano seguinte, 1978,
grava o disco Antologia poética de
Ferreira Gullar e, sob a direção de Bibi Ferreira, é encenada a peça
teatral Um rubi no umbigo. Começa a
escrever para o Grupo de Dramaturgia da Rede Globo, indicado pelo amigo Dias
Gomes. Seu livro Na vertigem do dia é
publicado em 1980 e Toda poesia, reunião de sua obra poética,
comemora seus 50 anos de vida. Estréia a versão teatral do Poema sujo, com a
interpretação de Esther Góes e Rubens Corrêa, sob a direção de Hugo Xavier, na
Sala Sidney Miller, no Rio de Janeiro. Lança o livro Sobre arte, coletânea de artigos publicados na revista Módulo, entre 1975 e 1980. A Rede Globo exibe o
seu especial Insensato coração, em
1983. Em 1984, recebe o título de "Cidadão Fluminense" na Assembléia
Legislativa do Rio. Profere a conferência "Educação criadora e o desafio
da transformação sócio-cultural" na abertura do 25º Congresso Mundial de
Educação pela Arte, realizado na Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Com a
tradução de Cyrano de Bergerac,
de Edmond Rostand, publicada em 1985, é agraciado como prêmio Molière, até
então inédito para a categoria tradutor. Em 1987 lança Barulhos. Dois anos depois, publica ensaios sobre cultura
brasileira e a questão da vanguarda em países desenvolvidos, no livro Indagações de hoje. A estranha vida banal, uma coletânea de 47 crônicas escritas para O Pasquim e Jornal do Brasil, são publicadas em 1990. Colabora com Dias Gomes
na novela Araponga. Morre, no
Rio, seu filho mais novo, Marcos. Nomeado diretor do Instituto Brasileiro de
Arte e Cultura (IBAC), em 1992, lá permanece até 1995. A Rede Globo exibe a
minissérie As noivas de Copacabana,
escrita em parceria com Dias Gomes e Marcílio Moraes. Lança, em 1993, Argumentação contra a morte da arte, que
provoca polêmica entre artistas plásticos. Morre, no Rio, sua mulher Thereza
Aragão, em 1994. Seu livro Luta corporal ganha edição comemorativa a
seus 40 anos de publicação. No Centro Cultural Banco do Brasil - Rio, ocorre um
evento sobre o trabalho do poeta. Em 1997, lança Cidades inventadas, coletânea de contos escritos ao longo de 40
anos. Passa a viver com a poeta Cláudia Ahimsa. No ano seguinte publica Rabo de foguete - Os anos de exílio. É
homenageado no 29º Festival Internacional de Poesia de Rotterdã. Lança, em
1999, o livro Muitas vozes e é agraciado com o Prêmio Jabuti,
categoria poesia. Recebe, também, o Prêmio Alphonsus de Guimarães, da
Biblioteca Nacional. Ferreira Gullar 70
anos foi o nome dado à exposição aberta em setembro de 2000, no Museu de
Arte Moderna do Rio, para marcar o aniversário do poeta. Ocorre o lançamento da
nona edição de Toda poesia, reunião atualizada de todos os
poemas de Gullar. O poeta recebe o prêmio Multicultural 2000, do jornal O Estado de São Paulo. No final do ano,
lança Um gato chamado Gatinho, 17
poemas sobre seu felino escritos para crianças. É publicado na coleção Perfis
do Rio Ferreira Gullar - Entre o espanto
e o poema, de George Moura em 2001. São reunidas crônicas escritas para o Jornal do Brasil nos anos 60 no livro O menino e o arco-íris. Lança uma
coleção infanto-juvenil O rei que mora no
mar, poemas dos anos 60 deGullar. Em 2002, é indicado ao Prêmio
Nobel de Literatura por nove professores titulares de universidades de Brasil,
Portugal e Estados Unidos. São relançados num só livro, os ensaios dos
anos 60: Cultura posta em questão e Vanguarda e subdesenvolvimento. Em
dezembro o poeta recebe o Prêmio Príncipe Claus, da Holanda, dado a artistas,
escritores e instituições culturais de fora da Europa que tenham contribuído
para mudar a sociedade, a arte ou a visão cultural de seu país. Lança Relâmpagos, reunindo 49 textos curtos
sobre artes, abordando obras de Michelangelo, Renoir, Picasso, Calder, Iberê
Camargo e muitos outros. A edição 2010 do Prêmio Luís de Camões ficou
com o brasileiro Ferreira Gullar. O mais importante prêmio literário da
Comunidade de Países de Língua Portuguesa, criado em conjunto pelos
governos do Brasil e de Portugal, renderá ao escritor 100 mil euros. Já
foram agraciados, entre outros, João Ubaldo Ribeiro, João Cabral de Melo
Neto, Arménio Vieira, Rubem Fonseca, Miguel Torga, Antonio Candido,
Lygia Fagundes Telles, Lobo Antunes. O premiado poeta completa 80
anos em 10 de setembro, quando lançará pela Ed. José Olympio Em alguma parte alguma, seu primeiro
livro de poemas em mais de uma década. Poeta consagrado, o maranhense é também
ensaísta, tradutor, dramaturgo e crítico de arte — além de assíduo palestrante
sempre acompanhado por platéias numerosas.
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