terça-feira, 16 de abril de 2013

ALINE GALLINA (1983 - )


Nascida em Florianópolis, Santa Catarina, Aline Gallina é acadêmica de Artes Plásticas e de Arquitetura e Urbanismo. Trabalha nas Oficinas de Arte da Fundação Catarinense de Cultura. Quando estava no processo de alfabetização, sua mãe a incentivava a ler, escrever e desenhar - e foi assim que surgiu seu fascínio pelas artes. Faz parte de seletivas realizadas pela Câmara Brasileira de Jovens Escritores e da antologia Mares diversos, mar de versos, organizada pela editora Mar de Idéias. Foi selecionada no 6°. concurso do Sinergia com dois poemas.







Tolerância

Sou de família azul
parida pelo sul da vida
Claro que não herdei
a tolerância do silêncio

Minha mãe tem três filhos
no futuro oco do espaço
Meu ovo quebrou duas vezes
antes de eu trazer eterna(mente)
a tola herança da noite.


***



Penetrável

Ela soma o ar da janela.
Tropeça na mão direita a cada 20 segundos.
O dia cinza reflete em seu corpo
sujo.
Dois bólides gigantes que se movem
no rosto —
Precisa escondê-los hoje
— caem para debaixo da cama.
Não guarda mais o segredo das cartas antigas,
eis a caixa da caixa!
Onde vive, morta para dormir
no necessário.
A paçoca de papel e capim, sua —
melhor amiga — do peito.
De quantas chamas é feito o dia?
24 goles ásperos e a cortina para
cada lado do ombro.
Perde as pontas dos dedos em cada passado.
Imprime a sombra no rosto, pois
a lua fere quando sorri.


***



Aniversariante em oração


Tenho urna pilha de nervos para resolver
Multa parafernalha solta na cabeça:
É prego
É pobre
É problema
pego o prego para começar
Bata! bato, bato... sem martelo ele não entra
-Parafuso pode ser?
para tudo, rodar deixa confuso
Tonto, com o fuso todo desnorteado
vejo a pilha, vejo o prego, não vejo o martelo e não quero
                                                                  o parafuso
Pronto. Recomeçando...
Ser pobre é um problema!
tem que fazer, tem que comer, tem que dormir,
                                               não tem nada nas mãos.
— Um martelo ajudaria!
não tem martelo não senhor, nem em mãos nem na estória.
o Senhor está no céu, junto dele quem mais? A família,
                                               os fiéis amigos...
eu não sou Senhor, sou Sozinho, filho da terra e é para
                                                        lá que eu vou.
Na terra tem tudo.
— puxa vida!
Puxa, puxa a vida que ela vem.
Vida pesada essa.
tenho dor nas costas, calos nos pés, mas tenho voz, tenho a força
                                                                  que me resta
dessa vida que eu já puxo ha 56 anos completados no dia de hoje. passo a passo vou mais adiante, passo por poças, fundo de poços,
                                                                  perto, longe
passo por pontes e montes.
junto problemas, resolvo, junto mais problemas que antes.
A cabeça funciona, mas com muita parafernalha - prego, pobre,
                                                        ponte, passos —
Solta.
solto meu corpo...pesado!
meus olhos arregalados. Pisante do mundo, que anda
                                                        para a terra, é assim:
Daqui para frente é o resto da vida.



ALCIDES FREITAS (1890-1912)




 
Alcides Freitas nasceu em Teresina, em 4 de julho de 1890. Estu­dou no Liceu Piauiense, cursou Humanidades e, terminado o curso, em 1906, matriculou-se na Faculdade de Medicina da Bahia. Na defesa da tese de doutorado, na área de Fisiopsicopatologia, produziu um texto - Da Lágrima - que já revelava o grande poeta que existia dentro de si, pois era muito mais afim à literatura do que à ciência. A tese foi publicada em 1912, o mesmo ano da edição do livro Alexandrinos, escrito em parceria com o irmão Lucídio Freitas. Publicado em outubro de 1912, o livro Alexandrinos mereceu elo­gios de críticos de renome nacional, como Osório Duque-Estrada, autor do Hino Nacional Brasileiro, José Veríssimo, Clóvis Beviláqua e Laudemiro de Menezes. Também os piauienses, como Zito Baptista, An­tônio Chaves, Abdias Neves é Cristino Castelo· Branco, aplaudiram a obra de estréia do poeta. Conta a professora Socorro Rios Magalhães que, antes mesmo do lançamento do primeiro livro, os jovens poetas Alcides Freitas e Lucídio Freitas já gozavam de grande prestígio entre os conterrâneos. "A par do pendor pelas letras, demonstrado desde a infância, e dos estudos superiores feitos fora do Estado, eram ainda filhos de Clodoaldo Freitas, naquele tempo já uma legenda no meio intelectual e político do Piauí", destaca a professora .




O bambu

Exposto ao dia, à noite, à beíra da lagoa,
Onde se miram, rindo, as boninas do prado,
Vive um velho bambu, velho, curso e delgado,
A escutar a canção que o triste vento entoa ...

Jamais os leves pés de um trovador alado,
Desses que pela mata andam cantando à toa,
Pousara-lhe num ramo! Apenas o povoa
Alta noite, agourento, um corujão rajado ...

E vive, — arcaico monge a gemer solitário,—
­A sua dor sem fim, o seu viver mortuário,
Tristonho a refletir no fundo azul das águas ...

Como bambu da mata, exposto ao sol e ao vento,
Do deserto sem fim de meu padecimento,
Triste nos olhos teus reflito as minhas mágoas!. ..

(Alexandrinos, 1912)


 ***




Hamlet

Não sei que estranha dor meu peito dilacera,
Que esquisito negror meu espírito ensombra!
Tenho sorrisos de anjo e arreganhos de fera,
Sinto chamas de inferno e frescuras de alfombra!

Sou malvado e sou bom! Minh'alma ora é sincera,
Ora de ser traidora ela própria se assombra!
Que clamores de inverno e paz de primavera!...
Escarneço da morte e temo a minha sombra!

Nervo a nervo, a vibrar, misteriosa e vaga,
Anda-me o corpo todo a nevrose de um tédio,
Que dos pés à cabeça atrozmente me alaga ...

Onde um recurso ao mal que me banha e transborda?
Minha dor é sem fim! Eu só tenho um remédio:
O suicídio - uma bala... um punhal... uma corda!...


 ***

SE QUERES SER FELIZ...


Se queres ser feliz, afasta-te, querida!
Da minha alma!  E, a sorrir, nem mais procure vê-la!
Uma estrela — Que é luz, deve unir-se à vida
Não à treva — o que sou.  Mas à lua, a outra estrela!

Tão formosa e tão moça, afeita à brisa mansa
Das manhãs de sorriso e tardes de ventura,
Não calculas a dor do amar sem esperança;
Do ratear, como um cego, a noite da amargura...

A alma, que conheceste, alegre e calma, outrora
Como um trecho de sol, embebido de canto,
Recordas como vive, erma e calada, agora
Em pedaço de abismo encharcado de pranto.

A ti tudo sorri!  Nem pensas no futuro
E o pensar no futuro envenena o presente!
Se és tão nova e tão bela, e o teu ser é tão puro
Há de te ser a vida um sonho alvinitente!


A minha alma, querida, é um sítio abandonado
Onde, em antigo tempo, houve trabalho e festa:
Um sitio claro e verde, harmônico e dourado
Como um sonho de flora a uma canção de vesta...
...............................................................................



Só o que vive a sofrer sabe o que é castigo!
Só o que vive de amor sabe o que o amor nos diz.
Tu me amas, talvez... mas atende ao que digo:
Afasta-te de mim, se queres ser feliz!...


MARRA SIGNORELI (1989 - )




 
João Antônio Marra Signoreli é um poeta jovem goiano, escreveu um livro que se chama Klívena Klarim, fez pouca coisa interessante ainda na vida, mas é atormentado por idéias fixas e, como ele mesmo afirma, “tenta desenvolvê-las sempre quando a madrugada cai e o barulho cessa”.







A torre do castelo principia!...


A torre do castelo principia!
Espíritos do céu, olhai! Oh vista!
As lésbicas celestes prometeram
Um beijo por apenas um soneto.
Depois matar Nidjag e oferecer
Meu coração à dama resgatada
- Ela jogava carta entre os vulcões
Ah, lavas de sentidos consumados!

Eu tenho em mim as lâminas da vida,
Seus olhos beberei emuito vinho,
Muitas pétalas, norte era uma rosa
Que não sei d'onde vinha e não chegava,
Por mais cerveja nunca me esquecia!
Era um buquê de ausências e outros mundos.

(do livro Klívena Klarim)





***



Seu passado era uma bailarina...


Seu passado era uma bailarina,
Uma bailarina nada branca de leves iluminações
Seus pés continham caminhos por onde se esperam auroras.
         Ela era
Silêncio sangue e sonho,
Porque não se estende seu rosto pela memória,
Ela não é mais correndo como a lágrima, ela...
Torres de inspiração esperam pássaros e sinos,
Ela não é mais que a coruja branca, muito branca, de um céu nada branco,
Não há mais rastro da bailarina que um dia ereta sobre meu corpo
Compunha-me a dependência por meio de sua dança.
Não há mais a dependência do seu corpo,
Nada há de nuvem pelo além de sua boca.
É de se esperar a estrada para rebater botões.

(do livro Klívena Klarim)



***

Hoje estava muito legal a paisagem matutina...


Hoje estava muito legal a paisagem matutina,
Onde é a lâmpada de meu quarto
É isso de mundo.
Mas não perdi a angústia deste poema.
Ah! Não adianta procurar por aqui, que de mensageiros muitos tivemos
que recitaram saudades em lúcula azul.
O nome da dor agora é distância,
e na distância eu cantava quem foi esquecido por ela.

(do livro Klívena Klarim)
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