segunda-feira, 29 de agosto de 2016

ALCENOR CANDEIRA FILHO (1947 - )

Alcenor Rodrigues Candeira Filho é poeta, advogado, professor universitário, ensaísta e crítico literário. Membro das Academias Parnaibana e Piauiense de Letras. Fez parte da diretoria da Academia Parnaibana de Letras. Entre suas obras, destacam-se: Sombras entre Ruínas, Rosas e Pedras, A Insônia da Cidade, Antologia Poética, Teoria do Texto e Outros Poemas









SOS


   sempre
   sós
   como ondas:
ontem hoje após.

   sempre
   sós
   somos:
eu e tu e vós...

quanto
   sobra
   são
   sombras
em torno de nós.

   sombras,
   só,
   quando
   e onde:
SÓS! SÓS! SÓS! SÓS!

   somos
   só
   nós
   sonhos
enquanto não pós.



***

SOMBRAS ENTRE RUÍNAS


Sombras e mais sombras
de sombrios olhares
num mundo de ruínas
andam lentamente.

Estão sempre mudas
tristes e cansadas.
E nem sonham mais
com um mundo que seja
menos miserável.

A voz que, aqui,
ali ou acolá,
de quando em vez
se levanta e quebra
a monotonia
grave do silêncio,
logo se esmaece
no deserto imenso.

E só ardentes preces,
ditas em segredo,
dia e noite sobem,
sobem para um céu
mais longe que perto.



***



DIANTE DA PORTA DA VIDA MORTA

Diante da porta
da vida morta,
devo sorrir
ou devo chorar?

Há deste lado
belas estrelas
que um dia talvez
possa alcançar.
Belas estrelas,
mas que me assombram
e fazem mal
ao meu olhar.
Por trás da porta
da vida morta,
em meio a um branco
transcendental,
o que haverá?
o que haverá?

Belas estrelas
dos meus assombros,
por gentileza
dizei-me vós:
diante da porta
da vida morta
devo sorrir
ou devo chorar?

TELMA DE FIGUEIREDO BRILHANTE (1956 - )

Telma de Figueiredo Brilhante é uma escritora cearense que mora em Recife, onde exercita sua capacidade criativa por meio das várias produções que traz a público: Contos chãoAflição de pássaro; Magia do instante; Crepúsculo das coisas;  O pequeno pescador. De família de intelectuais e militantes políticos, nos livros, ela desenvolve a consciência da escrita em forma de contos, poemas, ensaios.





VIII

Rompendo correntes
alma liberada voa
rumo ao infinito.

***



XXVII

De antigas vivências
apodrecida raiz
segredos esconde.

***


LIX

Bailado dos ventos
na celebração dos frutos
amadurecidos.

PETHIÒN DE VILLAR (1870-1924)

Egas Moniz Barreto de Aragão, mais conhecido como Pethion de Villar, médico, professor universitário e poeta, nasceu em Salvador no dia 4 de setembro de 1870, sendo seus pais Francisco Moniz de Aragão e Ana Lacerda Moniz de Aragão. Em 1895, concluiu o curso de medicina na Faculdade de Medicina da Bahia, pela qual recebeu o grau de doutor, depois de defender tese sobre Síntese da Medicina. Praticou o parnasianismo e dirigiu a Revista do Grêmio Literário. Fez parte da Academia de Letras da Bahia, onde ocupou a cadeira número 13 que tem como patrono Francisco Moniz Barreto. Portador de cultura invejável, faleceu no mesmo solar onde nasceu, deixando quatro filhos, todos poetas e conhecidos por seus respectivos pseudônimos. Produziu alentada bibliografia sobre assuntos científicos, filosóficos e literários, mas foi acima de tudo poeta. Em vida publicou apenas um folheto de 39 páginas sob o título Suprema Epopeia. Quatro anos depois de sua morte, a viúva Maria Elisa de Lacerda Valente Moniz de Aragão publicou em Lisboa Poesias Escolhidas e em 1975, o Conselho Federal de Cultura (MEC) publicou Poesia Completa.











MARINHA


Desce a Noite enrolada em brumas hibernais. . .
Trágica solidão, vago instante sombrio,
 em que, tonto de medo, o olhar não sabe mais
 onde começa o mar e onde acaba o navio. 

Nem o arfar de uma vaga: o mar parece um rio
 de óleo; oxidado o céu de nuvens colossais,
 num zimbório de chumbo acaçapado e frio,
escondendo no bojo a alma dos temporais.  

Nem das águas no espelho o reflexo de um astro...
 Apenas o farol, no vértice do mastro,
rubra a pupila, a arder, dentro de uma garoa.  

E lá vai o navio, espectral, lento e lento,
como um negro vampiro, enorme e sonolento,
pairando sobre um caos de tênebras, à toa.


***



HARMONIA SUPREMA

Eu te amo! Eu te amo! Eu te amo! Irrompa finalmente
Do meu lábio covarde, alto, numa explosão
Fatal, de uma só vez este segredo ardente<
Assim como um rugido, assim como um clarão!

Eu te amo! Eu te amo! Eu te amo! Ó Verbo onipotente
Que se fez Carne! Ó doce e horrível confissão!
Asa que vem do Azul varrendo a Noite em frente,
Aleluia eternal, suprema Redenção!

Eu te amo! Eu te amo! Eu te amo! Oh que aurora irradia
Desta frase ideal que anda a cantar, à toda...
Silêncio! Versos meus... parai vossa Harmonia!

Basta! A voz deste Amor que me enleva e me aterra!
Do meu Corpo à minha Alma, indômita, revoa
Como um raio de sol que prende o Céu à Terra.

***



S P L E E N  
                    ao Lelis Piedade. 

Eu não creio no Amor! toda essa fofa estética,
De hipérboles senis, de frases indiscretas
Que hoje até causa riso à gente mais dispéptica
E inda serve de capa à asneira dos poetas;

Toda esta bimbalhada estólida de prantos,
Que transfigura a Musa em chafariz eterno
E faz de cada tipo. o tipo dos encantos,
Tornando o Metro a-zêdo à força de ser temo; 

Tudo isto, neste fim de séc'lo, em que cada alma
Tem por farol o Gozo e por Deus o Dinheiro,
E o judeu Rothschild o mundo inteiro espalma; 

Tudo isto nada vale e prova o que eu já disse,
Cheio de um cepticismo intenso e verdadeiro:
O Verso é um bibelô, o Amor uma tolice...