quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

LISBETH LIMA DE OLIVEIRA (1963- )


Nasceu em João Pessoa, Paraíba, em 27 de agosto de 1963. É formada em Jornalismo pela Universidade Federal da Paraíba.Fez a Especialização em Língua e Literatura Francesa e o Mestrado em Biblioteconomia (hoje Ciência da Informação) na mesma Universidade. Morou quatro anos e meio na França nas cidades de Toulouse e Perpignan respectivamente. Durante esse período fez alguns cursos entre os quais fotografia, uma de suas paixões. Desde 1998 mora em Natal – RN. Em 2000 participou do Concurso de Poesia Zila Mamede e teve o seu poema Santos o mais votado pela Internet. Em 2001, ganhou o Prêmio Othoniel Menezes com a obra Dormência promovido pela Capitania das Artes.





TORRES GÊMEAS

Da construção gemelar.
pedaços homozigotos de pedra e gente.

***



DILIGENTE

Desliza ágil, qual dedos sobre cetim,
o grafite.
E desenha.
E rabisca.
Mas é quando escreve palavra
que ele se mostra veloz,
quase indomável,
como são as palavras quando querem ser lidas.

***




INEVITÁVEL

Não olhou para trás: sal, não queria virar.
ar lhe consumia o sangue e
formigas-doceiras, pequenas, rondavam seus sonhos.

A sua vida era pobre em escolhas.
Estava só.

Só, com as formigas-comuns rondando seu corpo,
Que quisera imortal.


MARANHÃO SOBRINHO (1879-1915)


Boêmio notório e de vida inteiramente desregrada, José Américo Augusto Olímpio Cavalcanti dos Alboquerques Maranhão Sobrinho "foi o mais considerável poeta do seu tempo, no extremo Norte, e o simbolista ortodoxo, o satanista por excelência do movimento naquela região", segundo o crítico Andrade Murici. Criado em Barra do Corda, no interior do Maranhão, conta-se que quando criança era irrequieto, brincalhão e levado mesmo da breca, no dizer dos seus contemporâneos. Freqüentou irregularmente os primeiros estudos no conceituado colégio do Dr. Isaac Martins, educador de excepcionais qualidades, ardoroso propagandista republicano e abolicionista. Em 15 de agosto de 1899, com o auxílio paterno, embarcou para São Luís, onde no ano seguinte funda a "Oficina dos Novos" e matricula-se com o nome de José Maranhão Sobrinho na antiga Escola Normal, em 1901, tendo para isso obtido a ajuda de uma pequena bolsa de estudo, naqueles tempos denominada pensão. Por motivo de se haver indisposto com alguns professores, em seguida abandonava o curso normal e, sem emprego, aos poucos entregou-se à vida boêmia. Em 1903, impressionados com a vida boêmia que levava em São Luís, alguns amigos mais dedicados o embarcaram, quase à força, para Belém do Pará, na esperança de que ali mudasse de procedimento, trabalhasse e arranjasse meios de publicar seus livros. Na capital paraense, colocou-se no jornal Notícias e passou a colaborar na tradicional Folha do Norte. Bem depressa, tornou-se popular nas rodas boêmias e nos meios intelectuais. Colaborou também em jornais e outras publicações de São Luís e de vários Estados, incluindo-se entre estas a Revista do Norte, de Antônio Lôbo e Alfredo Teixeira. Em 1908 funda Academia Maranhense de Letras, unido à plêiade de escritores e poetas locais. Nisso transfere-se para a Amazônia onde, residindo em Manaus, passa a colaborar com a imprensa local e torna-se membro fundador da Academia Amazonense de Letras. Sua vida sempre foi boêmia e desregrada, escrevendo seus versos em bares, mesas de botequim ou qualquer ambiente em que predominasse álcool, papel e tinta. Despreocupado pela sorte dos seus poemas, publicou seus livros em péssimas edições sem capricho ou conservação, aos cuidados de amigos e admiradores, deixando esparsa grande parte do que escreveu em jornais, revistas e folhas de cadernos de venda. Novamente muda-se mas para Belém, onde conhece o poeta Carlos D. Fernandes, que havia sido amigo de Cruz e Sousa e pertencera ao grupo da revista Rosa-Cruz. Dois anos depois, de retorno a Manaus, lá fixa-se como funcionário público do Estado, onde vem a falecer no dia do seu aniversário em plena noite de natal, no dia 25 de dezembro de 1915, com apenas 36 anos de idade. Em Barra da Corda, o seu nome é lembrado oficialmente em uma única praça e pela Academia Barra-Cordense de Letras. A poesia de Maranhão Sobrinho é de fato colorida e fantasiosa, por vezes cheia de um resplendor de pedrarias, quando muito se revela satânica e, em alguns momentos, penetrada do amargor de Cruz e Sousa. "... É o representante mais completo da escola simbolista no Maranhão", diz Antônio Reis Carvalho, e de fato, segundo os críticos literários, é notória a influência dos poetas franceses Mallarmé, Verlaine e Baudelaire. Na poesia de Maranhão Sobrinho a idéia é simbólica, o sentimento é romântico e a forma é parnasiana, afirma o literato Reis Carvalho. Literariamente batizado na escola simbolista, Maranhão Sobrinho é conhecido pelos críticos e estudiosos de literatura como um dos três melhores poetas simbolistas brasileiros, ao lado de Cruz e Souza e Alphonsus de Guimarães.






TELA DO NORTE

                   No estirão, percutindo os chifres, a boiada
                   monótona desliza; ondulando, a poeira,
                   em fulvas espirais, cobre toda a chapada
                   em cujos poentes o sol põe uns tons de fogueira.

                   Baba de sede e muge a leva; triturada
                   sob as patas dos bois a relva toda cheira! 
                   Boiando, corta o ar a mórbida toada
                   do guia que, de pé, palmilha à cabeceira...

                   Nos flancos da boiada, aos recurvos galões
                   as éguas, vão tocando a reses fugitivas
                   o vaqueiros, com o sol nas pontas dos ferrões...

                   E, do gado o tropel, com as asas derreadas
                   quase riscando o chão, que o sol calcina, esquivas,
                   arrancam coleando as emas assustadas...


***



MÁRTIR

Das cinco chagas de pesar, que exangue,
Trago no triste coração magoado,
Descem rosários de rubi de sangue
Como do corpo do Crucificado...

Pende-me a fronte sobre o peito, langue,
De infinitas Traições alanceado...
E, na noite da Mágoa, expiro exangue
Na Cruz de Pedra da Paixão pregado...

Subi, de joelhos, expirando, o adusto
Desfiladeiro enorme do Calvário...
Sob o madeiro da Saudade, a custo!

Sem consumar meus sonhos adorados,
Oiço, no meio do Martírio vário,
O chocalhar sacrílego dos Dados...


***



INTERLUNAR
                                                                 
Entre nuvens cruéis de púrpura e gerânio,
rubro como, de sangue, um hoplita messênio
o sol, vencido, desce o planalto de urânio
do ocaso, na mudez de um recolhido essênio...

Veloz como um corcel, voando num mito hircânio,
tremente, esvai-se a luz no leve oxigênio
da tarde, que me evoca os olhos de Estefânio
Mallarmé, sob a unção da tristeza e do gênio!

O ônix das sombras cresce ao trágico declínio
do dia que, a lembrar piratas do mar Jônio,
põe, no ocaso, clarões vermelhos de assassínio...

Vem a noite e, lembrando os Montes do Infortúnio,
vara o estranho solar da Morte e do Demônio
Com as torres medievais as sombra do Interlúnio...


ABGAR RENAULT (1901-1995)

Abgar de Castro Araújo Renault, professor, educador, político, poeta, ensaísta e tradutor, nasceu na cidade de Barbacena,  Minas Gerais. Filho de Leon Renault e de D. Maria José de Castro Araújo Renault, iniciou seus estudos em Belo Horizonte (MG). Formado professor, passa a exercer o magistério naquela cidade, trabalhando no Ginásio Mineiro e, posteriormente, na Universidade Federal de Minas Gerais. Na cidade do Rio de Janeiro (RJ), para onde se transferiu, deu aulas no Colégio Pedro II e na Universidade do Distrito Federal, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro. Eleito deputado estadual por Minas Gerais, exerceu diversos cargos de relevância, cabendo citar o de Diretor do Colégio Universitário da Universidade do Brasil; Secretário da Educação do Estado de Minas Gerais por duas vezes; Ministro da Educação e Cultura,; Ministro do Tribunal de Contas da União e o Centro Regional de Pesquisas Educacionais João Pinheiro em B. Horizonte. Exerceu diversos cargos no exterior, tais como o de membro da Comissão Consultiva Internacional sobre Educação de Adultos, da UNESCO; Membro da Comissão Internacional do Curriculum Secundário da UNESCO e representou o Brasil em diversas conferências internacionais sobre educação Teerã, Belgrado, Genebra, Londres e Santiago do Chile. Nomeado Professor Emérito da Universidade Federal de Minas Gerais, foi eleito, em 1968, para ocupar a cadeira nº 12 da Academia Brasileira de Letras, tendo tomado posse em 23 de maio de 1969. Tradutor, especializou-se em poetas alemães, espanhóis, ingleses, norte-americanos e franceses. O autor foi casado com D. Ignez Caldeira Brant Renault, com quem teve três filhos: Caio Márcio, Carlos Alberto e Luiz Roberto. Faleceu no dia 31 de dezembro de 1995, aos 94 anos. Entre as suas principais obras estão: Sonetos antigos (1968); A lápide sob a lua (1968); Sofotulafai (1971); A outra face da lua (1983)...





Balada da irremediável tristeza


Eu hoje estou inabitável...
Não sei por quê,
levantei com o pé esquerdo:
o meu primeiro cigarro amargou
como uma colherada de fel;
a tristeza de vários corações bem tristes
veio, sem quê, nem por quê,
encher meu coração vazio...vazio...
Eu hoje estou inabitável...
 

A vida está doendo...doendo...
A vida está toda atrapalhada...
Estou sozinho numa estrada
fazendo a pé um raid impossível.
 

Ah! se eu pudesse me embebedar
e cambalear...cambalear...
cair, e acordar desta tristeza
que ninguém, ninguém sabe...
Todo mundo vai rir destes meus versos,
mas jurarei por Deus, se for preciso:
eu hoje estou inabitável...


***


Noite
 

Há duas pombas brancas no telhado.
Junto delas pousa o silêncio do dia já parado,
e entre asas caladas o primeiro gesto da noite vai crescendo.
É tarde nos telhados e nas árvores,
é tarde (triste e mais tarde) nessa rua
que se reabriu no fundo de um olhar,
onde se movem ressurrectos mármores
e começam a discorrer ventos e velas
por sobre a limpidez das mesmas águas velhas,
e pássaros azuis bicam frutos de astro soltos no ar.
 

Sobem (de onde?) vultos escuros de coisas e de entes,
alongam a última distância, somem a luz que se destece
e a linha dos caminhos, apagam o verde prado.
Não há duas pombas brancas no telhado:
sobre elas, seu vôo e seu arrulho ausentes
a lápide sem cor das horas desce.


***


SONETOS JÁ ANTIGOS (III)

Em vam apuro a minha fortitude,
Senhora, por vencer o meu Amor.
Debalde o vosso olhar, que assi me illude,
Ao meu denega o bem de seu fulgor.

Que quanto mais de vós se desilude
Meu tino vam, mais eu chego a suppor
Que tal fereza hum dia se desmude,
E que peneis tambem da mesma dor.

Mas he sem cura o mal que anda a pungir-me:
Que, si agora padece este meu ser,
Porque eu vos vejo contra mi tam firme,

O dano de querer-vos sem vos ter,
Em vos sentindo minha, ha de ferir-me
O mal de ter-vos sem vos merecer.