terça-feira, 25 de agosto de 2015

ADRIANE GARCIA (1973 - )

Adriane Garcia nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais. É historiadora, funcionária pública, arte-educadora e atriz. Escreve poesia, infantojuvenis, contos e textos teatrais. Em 2013, venceu o Prêmio Nacional de Literatura do Paraná com o livro de poemas Fábulas para adulto perder o sono. No ano seguinte, publicou outra coletânea O Nome do Mundo.











BOIADA


Milhares nos carros de boi
puxando do horário comercial pra casa
da casa pro horário comercial
dormem em pé, cansados,
ruminam a grama verde que adubam
e não comem

É gado de pouco sonho
De pouca ração
De muito corte.

***



VIDA


Carro à deriva:
A enchente carrega
com gente dentro.

***



SOLIDÃO




o homem
procura
o outro
homem
só.

WESLEY CORREIA (1980 - )

Wesley Correia nasceu em Cruz das Almas, no Recôncavo Baiano. Licenciou-se em Letras Vernáculas pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), e mestrado em Literatura e Diversidade Cultural pela mesma instituição e doutor em Estudos Étnicos e Africanos pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), professor do Instituto Federal de Ciência, Educação e Tecnologia da Bahia – IFBa e membro associado do CLEPUL – Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias, em Portugal. É professor de Literatura Brasileira da Universidade do Estado da Bahia e foi um dos poetas convidados a representar o Brasil no XI Festival Latino-americano de Poesia em Dezembro de 2007 (Colômbia). É autor do livro Pausa para um beijo e outros poemas (Editora Nova Civilização, 2006) e tem participado como poeta e ficcionista de revistas e coletâneas. Em 2013, publicou o livro Deus é Negro – Da partida, Da Chegada, Da Multiplicação.  










2ª porta

         para Luciana Castro






Judite me olhou
com olhos de frio e luz
e disse: - Já vou!

Eu permaneci ali,
por dois mil anos, ali,
virando a
                 memória do
                                    instante
                                                encantado
                                    que
                     não
cessa.









Ação de despejo






Chegaram o promotor,
                    o juiz,
                    o policial.

Só os cristais,
na prateleira empoeirada,
permanecem incólumes.












Do mistério
          
para Alessandro Correia





Durou minuto?
          Segundo?

         O tempo
                   da dor
            (eterna dor)
                       de existir?

Seu nome, sem que eu o dissesse,
      me consumia:

Paulo, Paulo,

           mistério errante

           das coisas sem tempo.

FRANCISCO OTAVIANO (1825-1884)

Francisco Otaviano de Almeida Rosa foi advogado, jornalista, político, diplomata e poeta, nascido na cidade do Rio de Janeiro, em 26 de junho de 1825, e faleceu na mesma cidade em 28 de junho de 1884. É o patrono da Cadeira no 13, por escolha do fundador Visconde de Taunay. Era filho do Dr. Otaviano Maria da Rosa, médico, e de Joana Maria da Rosa. Fez os primeiros estudos no colégio do professor Manuel Maria Cabral, e no decorrer da vida escolar dedicou-se principalmente às línguas, à história, à geografia e à filosofia. Matriculou-se na Faculdade de Direito de São Paulo, em 1841, na qual se bacharelou em 1845. Regressou ao Rio, onde principiou a vida profissional na advocacia e no jornalismo, nos jornais Sentinela da Monarquia, Gazeta Oficial do Império do Brasil (1846-48), da qual se tornou diretor em 1847, Jornal do Comercio (1851-54) e Correio Mercantil. Foi eleito secretário do Instituto da Ordem dos Advogados, cargo que exerceu por nove anos; deputado geral (1852) e senador (1867). Como jornalista, empenhou-se com entusiasmo nas campanhas do Partido Liberal e tomou parte preponderante na elaboração da Lei do Ventre Livre, em 1871. Já participara da elaboração do Tratado da Tríplice Aliança, em 1865, quando foi convidado por Olinda para ocupar a pasta dos Negócios Estrangeiros, mas não a aceitou, ficando em seu lugar Saraiva. Como jornalista, empenhou-se com entusiasmo nas campanhas do Partido Liberal e tomou parte preponderante na elaboração da Lei do Ventre Livre, em 1871. Poeta desde menino, não se dedicou suficientemente à literatura. Ele mesmo exprimiu com frequência a tristeza de haver sido arrebatado à poesia pela política, por ele chamada de "Messalina impura", num epíteto famoso. Apesar da carreira fácil, respeitável e brilhante, cultivou sempre a nostalgia das letras. Sua obra poética representa uma espécie de inspiração do homem médio, mas não banal, o que lhe dá, do ponto de vista psicológico, uma comunicabilidade aumentada pela transparência do verso, leve e corredio. Em torno do eixo central de sua personalidade literária se organizam as tendências comuns do tempo, num verso quase sempre harmonioso e bem cuidado. Nas suas traduções de Horácio, Catulo, Byron, Shakespeare, Shelley, Victor Hugo, Goethe, revela-se também poeta excelente. Ficou para sempre inscrito entre os nossos poetas da fase romântica, mesmo que não tenha exercido a literatura com paixão, e o patriota que foi dá-lhe lugar entre os grandes vultos brasileiros do século XIX. Entre suas principais obras literárias, encontram-se Cantos de Selma, poesias (1872); Traduções e poesias (1881); poesias esparsas na Revista da Academia Brasileira de Letras, nos 15 e 16; Poesias, contidas na Lira Popular publicada por Custódio Quaresma. Outras obras: Inteligência do Ato Adicional (1857); As Assembléias provinciais (1869); O Tratado da Tríplice Aliança (1870); Questão militar (discursos proferidos no Senado e na Câmara dos Deputados pelo Barão de Cotegipe, Saraiva, Francisco Otaviano, Afonso Celso e Silveira Martins); Cartas, coligidas por Wanderley Pinho (1977).










Soneto

Morrer, dormir, não mais: termina a vida
e com ela terminam nossas dores,
um punhado de terra, algumas flores,
e às vezes uma lágrima fingida!

Sim, minha morte não será sentida,
não deixo amigos e nem tive amores!
ou se os tive mostraram-se traidores,
algozes vis de uma alma consumida.

Tudo é pobre no mundo; que me importa
que ele amanhã se esb'roe e que desabe,
se a natureza para mim está morta!

É tempo já que o meu exílio acabe;
vem, pois, ó morte, ao nada me transporta
morrer, dormir, talvez sonhar, quem sabe?

***



RECORDAÇÕES


Oh! se te amei! Toda a manhã da vida
gastei-a em sonhos que de ti falavam!
Nas estrelas do céu via teu rosto,
ouvia-te nas brisas que passavam:
Oh! se te amei! Do fundo de minh’alma
imenso, eterno amor te consagrei...
era um viver em cisma de futuro!
Mulher! oh! se te amei!

Quando um sorriso os lábios te roçava,
meu Deus! que entusiasmo que sentia!
láurea coroa de virente rama
inglório bardo, a fronte me cingia;
à estrela alva, às nuvens do Ocidente,
em meiga voz teu nome confiei.
Estrela e nuvens bem no seio o guardam;
mulher! oh! se te amei!

Oh! se te amei! As lágrimas vertidas,
alta noite por ti; atroz tortura
do desespero d’alma, e além, no tempo,
uma vida sumir-se na loucura...
Nem aragem, nem sol, nem céu, nem flores,
nem a sombra das glórias que sonhei...
Tudo desfez-se em sonhos e quimeras...
Mulher! oh! se te amei! 

***



ILUSÕES DA VIDA


Quem passou pela vida em branca nuvem
e em plácido repouso adormeceu;
quem não sentiu o frio da desgraça,
quem passou pela vida e não sofreu,
foi espectro de homem - não foi homem,
só passou pela vida - não viveu.