segunda-feira, 29 de agosto de 2016

PETHIÒN DE VILLAR (1870-1924)

Egas Moniz Barreto de Aragão, mais conhecido como Pethion de Villar, médico, professor universitário e poeta, nasceu em Salvador no dia 4 de setembro de 1870, sendo seus pais Francisco Moniz de Aragão e Ana Lacerda Moniz de Aragão. Em 1895, concluiu o curso de medicina na Faculdade de Medicina da Bahia, pela qual recebeu o grau de doutor, depois de defender tese sobre Síntese da Medicina. Praticou o parnasianismo e dirigiu a Revista do Grêmio Literário. Fez parte da Academia de Letras da Bahia, onde ocupou a cadeira número 13 que tem como patrono Francisco Moniz Barreto. Portador de cultura invejável, faleceu no mesmo solar onde nasceu, deixando quatro filhos, todos poetas e conhecidos por seus respectivos pseudônimos. Produziu alentada bibliografia sobre assuntos científicos, filosóficos e literários, mas foi acima de tudo poeta. Em vida publicou apenas um folheto de 39 páginas sob o título Suprema Epopeia. Quatro anos depois de sua morte, a viúva Maria Elisa de Lacerda Valente Moniz de Aragão publicou em Lisboa Poesias Escolhidas e em 1975, o Conselho Federal de Cultura (MEC) publicou Poesia Completa.











MARINHA


Desce a Noite enrolada em brumas hibernais. . .
Trágica solidão, vago instante sombrio,
 em que, tonto de medo, o olhar não sabe mais
 onde começa o mar e onde acaba o navio. 

Nem o arfar de uma vaga: o mar parece um rio
 de óleo; oxidado o céu de nuvens colossais,
 num zimbório de chumbo acaçapado e frio,
escondendo no bojo a alma dos temporais.  

Nem das águas no espelho o reflexo de um astro...
 Apenas o farol, no vértice do mastro,
rubra a pupila, a arder, dentro de uma garoa.  

E lá vai o navio, espectral, lento e lento,
como um negro vampiro, enorme e sonolento,
pairando sobre um caos de tênebras, à toa.


***



HARMONIA SUPREMA

Eu te amo! Eu te amo! Eu te amo! Irrompa finalmente
Do meu lábio covarde, alto, numa explosão
Fatal, de uma só vez este segredo ardente<
Assim como um rugido, assim como um clarão!

Eu te amo! Eu te amo! Eu te amo! Ó Verbo onipotente
Que se fez Carne! Ó doce e horrível confissão!
Asa que vem do Azul varrendo a Noite em frente,
Aleluia eternal, suprema Redenção!

Eu te amo! Eu te amo! Eu te amo! Oh que aurora irradia
Desta frase ideal que anda a cantar, à toda...
Silêncio! Versos meus... parai vossa Harmonia!

Basta! A voz deste Amor que me enleva e me aterra!
Do meu Corpo à minha Alma, indômita, revoa
Como um raio de sol que prende o Céu à Terra.

***



S P L E E N  
                    ao Lelis Piedade. 

Eu não creio no Amor! toda essa fofa estética,
De hipérboles senis, de frases indiscretas
Que hoje até causa riso à gente mais dispéptica
E inda serve de capa à asneira dos poetas;

Toda esta bimbalhada estólida de prantos,
Que transfigura a Musa em chafariz eterno
E faz de cada tipo. o tipo dos encantos,
Tornando o Metro a-zêdo à força de ser temo; 

Tudo isto, neste fim de séc'lo, em que cada alma
Tem por farol o Gozo e por Deus o Dinheiro,
E o judeu Rothschild o mundo inteiro espalma; 

Tudo isto nada vale e prova o que eu já disse,
Cheio de um cepticismo intenso e verdadeiro:
O Verso é um bibelô, o Amor uma tolice... 


Nenhum comentário:

Postar um comentário