quinta-feira, 1 de março de 2012

AFONSO FÉLIX DE SOUSA (1925-2002)

Afonso Félix de Sousa nasceu em Jaraguá, 5 de julho de 1925,  poeta, cronista, jornalista e tradutor brasileiro, aos nove anos, mudou-se para Pires do Rio (GO), onde seu pai foi exercer o cargo de agente fiscal de rendas estaduais. Em 1942, publicou os primeiros poemas, no jornal Voz Juvenil do Ginásio Anchieta, da cidade de Silvânia, onde estudava. No ano seguinte, mudou-se para Goiânia, onde iniciou sua atividade literária, colaborando em jornais como O Popular e a Folha de Goiaz e na revista OesteEm 1944, matriculou-se no curso de Comércio e Contabilidade do Ateneu Dom Bosco e ingressou, por concurso, no quadro de funcionários do Banco do Brasil. Com outros escritores goianos fundou, em 1946, a Associação Brasileira de Escritores — Seção de Goiás. Um ano depois, transferido para a Direção Geral do Banco do Brasil, mudou-se para o Rio de Janeiro. Foi contemplado, em 1953, com bolsa de estudos para um curso de especialização em Economia na École Pratique des Hautes Études, da Sorbonne, em Paris. Dois anos depois, terminado o curso, retornou ao Brasil. Em 1959, casou-se com a poetisa Astrid Cabral, com quem teria cinco filhos. Mudou-se para Brasília em 1962. Designado, em 1970, pelo Ministério das Relações Exteriores e pelo Banco do Brasil, serviu como assistente de promoção comercial na Embaixada Brasileira em Beirute por dois anos e meio, regressando ao fim da missão para o Rio de Janeiro. Em 1975, aposentou-se no Banco do Brasil, onde trabalhou por muitos anos nos setores de câmbio e comércio exterior. Passou a residir em Chicago a partir de 1986. A estréia em livro foi com O túnel, coletânea de poemas editada pela revista Orfeu, em 1948. Em 1991, foi agraciado com o Diploma de Mérito de Goianidade, da Associação Goiana de Imprensa. Em 1999, teve a sua obra "Íntima Parábola" incluída por um seleto júri escolhido pelo jornal "O Popular", de Goiânia, entre os 20 livros mais importantes do século XX em Goiás.  Não seria injusto afirmar ser Afonso Felix de Sousa uma das maiores vozes poéticas do país.




SONETO ELEMENTAR

Nos recantos tranqüilos encontrava
a poesia. Sobre mim e o rio
debruçavam-se as árvores. Os pássaros
eram ecos nos seus primeiros cantos.

Ruas de chuvas leves, nunca o inverno.
Com o menino brincar vinham as tardes
e vinha o céu. Adeus, nuvens cinzentas
onde vagam os monstros meus da infância.

Já não vibram as músicas ingênuas
na planície escutadas. A poesia
difícil se tornou e vive em sombras.

Em mim que tanto amei hoje às palavras
movem-se para ásperas mensagens
e vão morrer na incompreensão dos gestos.


***



Toada goiana


Correr chapadas e serras
cobertas de casimira.
As noites que lá se foram
voltam dançando, e a catira
que se escuta sempre longe
é doce - ainda que fira.
O vento dá na roseira,
mas meu bem, ninguém me tira.
Quem ama, reclama e chora,
canta e suspira.
As muitas matas, as muitas
solidões ... que amor as planta?
Quero bem a uma menina
que vê-la é ver uma santa.
Deixei-a, vim correr mundo.
Agora tenho a garganta
atravessada do espinho
desta saudade que é tanta.
Quem ama, chora e suspira,
reclama e canta.
Poeira em giros vermelhos,
e o tempo já foi de lama.
Sete cravos, sete rosas -
é pouco para quem ama.
Sete cartas de lembrança -
e a ingrata, que não me chama!
Faço fé que ainda me lembra,
pois sou goiano de fama.
Quem ama, suspira e canta,
chora e reclama.
O vento vem, dá na vida.
Mas a terra - é em mim que mora.
Passarinho no coqueiro,
do meu bem fala-me agora:
se está morto, se está vivo,
se casou, se foi embora.
Vem a seca ... Vêm as águas ...
E a resposta já demora.
Quem ama, canta e reclama,
suspira e chora.
 



***



REENCONTRO

Nada mais esperar, se o sentimento
que um dia escravo e deus de mim fizera,
é hoje o doce e amargo no alimento
a alimentar quem sou com quem eu era

e nunca o fui, senão em pensamento.
Nada mais esperar? — Mas clama a espera no fundo
do que sonho, quero e invento
com o que resiste, em mim, ao anjo e à fera.

Oh, não mais esperar!— E o desespero
seria em minha voz, como em meus braços,
a espera mais total, do prisioneiro

que, encerrado em si mesmo, sente o espaço ...
Que inteiro está o amor no derradeiro
pedaço deste amor que despedaço.



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