quarta-feira, 20 de junho de 2012

LUÍZ GUIMARÂES JÚNIOR (1845-1898)




Luiz Caetano Pereira de Guimarães Júnior: diplomata, poeta, romancista e teatrólogo, Foi um dos dez membros eleitos para se completar o quadro de fundadores da Academia Brasileira de Letras, onde criou a Cadeira n. 31, que tem como patrono o poeta Pedro Luís.

Era filho de Luís Caetano Pereira Guimarães, português, e de Albina de Moura, brasileira. (Há uma divergência na data de seu nascimento: Sílvio Romero indica o ano de 44; outras fontes registram 1847. A filha do poeta, D. Iracema Guimarães Vilela, forneceu a Múcio Leão a data de 45.) Fez os primeiros estudos no Rio de Janeiro. Aos dezesseis anos escreveu o romance Lírio branco, dedicado a Machado de Assis. Partiu para São Paulo, a fim de continuar os estudos preparatórios, e lá recebeu uma carta de Machado de Assis animando-o a prosseguir na carreira das letras. Fez o curso de Direito no Recife entre 1864 e 1869. Ali assistiu ao desenvolvimento da "escola condoreira", em que tomou parte mais ou menos diretamente. Continuou a escrever, multiplicando-se no jornalismo e escrevendo livros de contos, comédias e poesias. Aos 28 anos, apaixonado por Cecília Canongia, cogitou de se casar. Sua situação no jornalismo e nas letras, embora brilhante, não lhe proporcionava os meios para viver estavelmente. O poeta e amigo Pedro Luís, então ministro dos Negócios Estrangeiros, oferece-lhe um lugar na diplomacia como secretário de Legação em Londres. De 1873 a 1894, passou por vários outros postos, em Santiago do Chile, em Roma, onde serviu sob as ordens de Gonçalves de Magalhães, e em Lisboa; foi, depois, como enviado extraordinário, para Veneza. Em 1894, transferiu-se, já aposentado, para Lisboa, onde veio a falecer.

Em Lisboa, como secretário de Legação, teve ocasião de conhecer alguns dos mais ilustres espíritos do tempo. Foi amigo de Ramalho Ortigão, Eça de Queirós, Guerra Junqueiro, Fialho de Almeida. Distinguia-se como poeta e como homem do mundo. Ramalho Ortigão assim o definiu: "Como poeta, ele é um primeiro adido à legação da elegância... O seu estilo tem um lavor de renda, uma suavidade de veludo e um fresco perfume de toilette." Tinha predileção pelas cidades da arte e do pensamento. O poeta celebra Londres, celebra Roma. Mais que tudo, porém, recorda o seu país. Suas principais obras são Corimbos e Sonetos e rimas. O primeiro representa a fase em que vivia no Brasil (1862 a 1872); o outro, o período em que residiu na Europa. A apreciação de críticos e estudiosos como Vicente de Carvalho, Medeiros e Albuquerque e Carlos de Laet, foi de pleno reconhecimento da poesia de Luís Guimarães Júnior. Seus sonetos revelam um grande apuro da forma, combinações métricas finas e sutis, e o gosto pelos motivos exóticos que ele pôde sentir e observar em suas peregrinações por terras estrangeiras. Romântico de inspiração, mas já dentro da orientação parnasiana, ele foi, no apuro da expressão, um precursor da poesia de Raimundo Correia, Bilac e Alberto de Oliveira.

Obras: Lírio branco, romance (1862); Uma cena contemporânea, teatro (1862); Corimbos, poesia (1866); A família agulha, romance (1870); Noturnos, poesia (1872); Filigranas, ficção (1872); Sonetos e rimas, poesia (1880); Contos sem pretensão (1872); e várias peças de teatro.









Visita  à casa paterna


Como a ave que volta ao ninho antigo,
depois de um longo e tenebroso inverno,
eu quis também rever o lar paterno,
o meu primeiro e virginal abrigo.

Entrei. Um gênio carinhoso e amigo,
o fantasma talvez do amor materno,
tomou-me as mãos, - olhou-me, grave e terno,
e, passo a passo, caminhou comigo.

Era esta sala... (Oh! se me lembro! e quanto!)
em que da luz noturna à claridade,
minhas irmãs e minha mãe... O pranto

Jorrou-me em ondas... Resistir quem há de?
uma ilusão gemia em cada canto,
chorava em cada canto uma saudade.


***


NOITE TROPICAL


Desceu a calma noite irradiante
sobre a floresta e os vales semeados:
já ninguém ouve os cantos prolongados
do negro escravo, estúpido e arquejante.

Dorme a fazenda: — apenas hesitante
a voz do cão, em uivos assustados,
corta o silêncio, e vai nos descampados
perder-se como um grito agonizante.

Rompe o luar, ensangüentado e informe,
brotam fantasmas da savana nua ...
e, de repente, um berro desconforme

parte da mata em que o luar flutua,
e a onça, abrindo a rubra fauce enorme,
geme na sombra, contemplando a lua.


***




JAGUAR


Rosna o fulvo jaguar, triste e dormente,
no seio da floresta: — a fera inteira
dobra à velhice, e a névoa derradeira
cobre-lhe a fauce lívida e impotente.

O imundo inseto, a mosca impertinente
zumbe-lhe em torno; — a cobra traiçoeira
fere-lhe a cauda inerte, e a aventureira
formiga morde-o calma e indiferente.

Apenas quebra o sono funerário
do velho herói o grito, entre as folhagens,
do cordeiro medroso e solitário;

ou, através das tropicais aragens,
o tropel afastado, intenso e vário
d'um rebanho de búfalos selvagens.


Nenhum comentário:

Postar um comentário