domingo, 14 de junho de 2015

CARLOS NEJAR (1939 - )

Luiz Carlos Verzoni Nejar nasceu em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. É tradutor, advogado, promotor e procurador de justiça aposentado e, principalmente, poeta. O seu primeiro livro de poemas, Sélesis, foi lançado em 1960 e hoje conta com mais de 30 títulos, além de romances: Um certo Jaques Netan (1991), O túnel perfeito (1994), Carta aos loucos (1998), ensaios diversos e até literatura infanto-juvenil: O Menino-rio (1985), Era um vento muito branco (1987), A formiga metafísica (1988), Zão (1989), Grande vento (1997). Participou de inúmeras antologias e coletâneas de poesias e tem sua obra traduzida para diversos idiomas. Em 1989, entrou na Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira de seu conterrâneo Vianna Moog. Na condição de promotor de justiça, viajou por todo o interior do Rio Grande do Sul, conhecendo palmo a palmo o pampa que avulta na sua visão poética. Participou de vários congressos e eventos internacionais de poesia. Entre alguns de seus principais livros de poesias, encontram-se: O campeador do vento (1966), Danações (1969), Ordenações (1971), Casa dos arreios (1973), O poço do calabouço (1974), A árvore do mundo (1977), Os viventes (1979), Livro de gazéis (1984), A genealogia da palavra (1989), Amar, a mais alta constelação (1991), Simon vento Bolívar (1993), Arca da aliança (1995), Sonetos do paiol, Ao sul da aurora (1997) e O poço dos milagres (2005), obra em prosa não bem recebida pela crítica. 









Abandonei-me ao vento...

 

Abandonei-me ao vento. Quem sou, pode
explicar-te o vento que me invade.
E já perdi o nome ao som da morte,
ganhei um outro livre, que me sabe

quando me levantar e o corpo solte
o meu despojo vão. Em toda parte
o vento há-de soprar, onde não cabe
a morte mais. A morte a morte explode.

E os seus fragmentos caem na viração
e o que ela foi na pedra se consome.
Abandonei-me ao vento como um grão.

Sem a opressão dos ganhos, utensílio,
abandonei-me. E assim fiquei conciso,
eterno. Mas o amor guardou meu nome.



***



Soneto aos sapatos quietos



Os pés dos sapatos juntos.
Hei-de calçá-los, soltos
e imensos, e talvez rotos,
como dois velhos marujos.

Nunca terão o desgosto
que tive. Jamais o sujo
desconsolo: estando postos,
como eu, em chãos defuntos.

Em vãos de flor, sem o riacho
de um pé a outro, entre guizos.
Não há demência ou fome.

Sapatos nos pés não comem.
Só dormem. Porém, descalço
pela alma, o paraíso. 

 

***



Aos amigos e inimigos 


De amigos e inimigos 
fui servido, 
agora estamos unidos, 
atrelados ao degredo. 

Nunca fui o escolhido 
onde os deuses me puseram. 
Nem sou deles, sou de mim 
e dos íntimos infernos. 

Não. 
Não me entreguem aos mortos, 
os filhos que me pariram 
e plasmei com meus remorsos 
no seu mágico convívio. 

De amigos e inimigos 
fui servido 
e com tão finada vida 
e alegados motivos, 
que ao dar por eles, já partira 
e quando dei por mim, não estava vivo. 
 


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