Mariana
Ianelli nasceu em 1979 na cidade de São Paulo. Poeta, mestre em
Literatura e Crítica Literária, é autora dos livros Trajetória de antes (1999), Duas
Chagas (2001), Passagens (2003), Fazer Silêncio (2005), Almádena (2007), Treva
Alvorada (2010) e O amor e depois (2012) todos pela editora
Iluminuras. Como resenhista, colabora atualmente para os Jornais O Globo –
Prosa&Verso (RJ) e Rascunho(PR).
Escreveu crônicas para o site Vida
Breve. Em 2008 recebeu o prêmio Fundação Bunge (antigo Moinho
Santista) - Literatura, na categoria Juventude. Em 2011 obteve menção
honrosa da Casa das Américas (Cuba) pelo livro Treva Alvorada. Confiram um pouco mais sobre esta poetisa em sua
página na Web: http://www2.uol.com.br/marianaianelli
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Neste
Lugar
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Nenhum traço de delicadeza, Só palavras ávidas E o tempo, A devoração do tempo.
Um
jardim entregue
Às chuvas e aos ventos.
O
que para os cães
É febre de matança E para um deus Um dos seus inúmeros Prazeres.
Caminhos
de sangue
Onde reina o amor primeiro, Morada de súbita Ausência do medo.
Um
despenhadeiro, o céu
E uma queda Sem alívio de esquecimento. |
***
Três
vezes Cristo
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O primeiro momento de Cristo foi para mim o de um signo arcaico, seu corpo fazendo cruz na madeira pendurado no topo da classe em cada aula eu elevava os olhos para o homem e não podia compreender coisa alguma. Num segundo instante a escola me esclareceu por que a cruz por que no alto da classe, tive pena da cabeça coroada doendo caída para o peito, tive pena mas não tive fé. No terceiro desafio entre nós percebi que a coroa era frouxa que o sangue da testa estancava que seus olhos se entreabriam para mim. Cristo fazia o gesto de outras vezes, o peito nu desidratado, pedindo, o pano debaixo cobrindo o resto. Ele oferecia um abraço sensual, nas cadeiras de aula descobri qual meu homem, paciente, faminto, ele. |
***
Variações para morte
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A gota ácida, o mármore em cima. Coroa de espinhos. Mais outra vez um chamado de carinho, uma flor dedicada. A ganância do escuro querer ser mais negro. Ela, não a verdade, mas cólera radiante na perda de tudo, e do mundo novo. Um abuso do vento, ou a furta-cor. Furta azares e acertos. Ir para o susto do inaudito, a mais secreta gestação da vida. Saudade para os outros. Lentidão maior do gesto, o tempo cedido de sobra. Livre proveito do sono. Guardar-se, sumir-se nas alturas de lá. O corpo abastado, sublime. Prazer ao meu descanso. O lado da sombra sem lei, sem vacilo, voz ou contradição. Prazer, prazer. O dia inflamado em mim. Nada de necessário, de providente, fugaz. O nada, devagar. Regato das delícias tão invisíveis. Meu largo estremecimento pelos céus. Langor inesperado surgindo de qualquer pouca fé, de qualquer reserva miserável. Um amor desocupado, minúcia. O corpo ficando lento, tão lento como uma parte do infinito fora de qualquer tempo. Tanto prazer. O mais, longe de mim, que será meu. Intervalo de toda a canção, e de todos os homens. Minha isenção. Um suave recuo para dentro, e a partida desenvolta. Sentir isto e aquilo, generosamente. Iminência de não ser. Ela, ambiciosa para vir, mas com seus cuidados, sua sedução. Ela, a melindrosa. Bendita. Noite resolvida em mim, sua água densa de inverno. Meu corpo atenuado, dançarino... amiúde. |
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