quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

IDMAR BOAVENTURA (1977 - )

Poeta e professor da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), no campus XX, em Brumado, publicou dois livros de poemas: O Desossar das Horas, 2004, e o A outra margem, 2008) e um ensaio acerca da poesia do baiano Roberval Pereyr: Dissonâncias diante do Espelho..., em 2011). Tenta, aos trancos e barrancos, alimentar um blog: http://idmarboaventura.blogspot.com.br  e, segundo ele, esmera-se, quando não está se divertindo no trabalho, em fazer nada com coisa alguma que se aproveite...








LEVITAÇÃO


Vou me despir de todo o peso.
Serei leve.
Não quero o sangue espesso dos dias
nem o vento das inglórias semeaduras.
Quero antes
o tom suave das auroras
e a breve brisa da tarde.
Ah, quero ser leve
como o verde da menina dos teus olhos,
leve como uma manhã de sol
que se esquece de passar.
Quero amanhecer
cercado de céu e nuvens.


II

Bebi das águas do Lethes,
e enfim adormeci.
Para acordar sem angústias,
liberto de todo o peso.
Para, enfim, poder ser leve.
Acordar com o chilreio dos pardais,
adormecer com as cigarras
e, no entremeio, levitar
como quem alcançou a graça do nada:
leve como a sombra de uma pluma,
como a brisa
que se esquece de passar. 


***



LÍQUIDO



Talvez teu encanto provenha
desse teu jeito de água:

da fluidez de teu corpo
que lembra a leveza das vagas,

de teu escapar-me tão líquido,
que em um segundo se detém,
e logo depois se espalha,

desse teu jeito de nuvem
fugindo de meu abraço.

Mas talvez nem seja isso:
diante de tua dureza,
eu é que me liquefaço.


***




SONETO DO AMOR VACILANTE


Perdoa o meu amor tão vacilante
que é sempre um esperar, uma agonia,
infinda madrugada, nunca dia,
que faz de eternidade um breve instante.

Perdoa, pelo menos, meu silêncio,
pois que ele é todo feito de esperas:
desejo que aguarda o banimento,
inverno se fazendo primavera.

E nesse perdoar tão sem limites,
na espera de um amor tão inconstante,
enxerga, ainda mais, minha vontade

de que esse meu amar tão sem juízo
esconda, no seu gesto ruminante,
a espera mais fiel de uma saudade.

 


Nenhum comentário:

Postar um comentário