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João Simões Lopes Neto foi,
segundo estudiosos e críticos de literatura, o maior escritor regionalista do
Rio Grande do Sul. Filho dos pelotenses Catão Bonifácio Lopes e Teresa de
Freitas Ramos, era neto paterno do Visconde da Graça, João Simões Lopes Filho,
e de sua primeira esposa Eufrásia Gonçalves, e neto materno de Manuel José de
Freitas Ramos e de Silvana Claudina da Silva. Nasceu na Estância da Graça,
propriedade de seu avô paterno. Com treze anos de idade, foi para o Rio de
Janeiro, estudar no famoso colégio Abílio. Retornando ao Sul, fixa-se em sua
terra natal, Pelotas, então rica e próspera pelas mais de cinqüenta charqueadas
que lhe davam a base econômica. Envolveu-se em uma série de iniciativas de
negócios que incluíram uma fábrica de vidros e uma destilaria. Os negócios
fracassaram. Uma guerra civil no Rio Grande do Sul - a Revolução Federalista -
e a economia local fora duramente abalada. Depois disto, construiu uma fábrica
de cigarros. Os produtos, fumos e cigarros, receberam o nome de
"Diabo", "Marca Diabo", o que gerou protestos religiosos.
Sua audácia empresarial o levou ainda a montar uma firma para torrar e moer
café, e desenvolveu uma fórmula à base de tabaco para combater sarna e
carrapatos. Fundou ainda uma mineradora, para explorar prata em Santa Catarina.
Casou-se em Pelotas, aos 27 anos, com Francisca de Paula Meireles Leite, de 19
anos, no dia 5 de maio de 1892, filha de Francisco Meireles Leite e Francisca
Josefa Dias; neta paterna de Francisco Meireles Leite e Gertrudes Maria de
Jesus; neta materna de Camilo Dias da Fonseca e Cândida Rosa. Não tiveram
filhos. Como escritor, Simões Lopes Neto procurou em sua produção literária
valorizar a história do gaúcho e suas tradições. Entre 15 de outubro e 14 de
dezembro de 1893, J. Simões Lopes Neto, sob o pseudônimo de "Serafim
Bemol", e em parceria com Sátiro Clemente e D. Salustiano, escreveram, em
forma de folhetim, A Mandinga, poema
em prosa. Mas a própria existência de seus co-autores é questionada.
Provavelmente foi mais uma brincadeira de Simões Lopes Neto. Em certa fase da
vida, empobrecido, sobreviveu como jornalista em Pelotas. Publicou apenas quatro
livros em sua vida: Cancioneiro Guasca
(1910), Contos Gauchescos (1912), Lendas do Sul (1913) e Casos do Romualdo (1914). Morreu em
Pelotas, aos 51 anos, de uma úlcera perfurada.
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A GALINHA MORTA
Vou
cantar a galinha morta:
Por
cima deste telhado.
Viva
branco, viva negro,
Viva
tudo misturado!
Eu
vi a galinha morta,
Agora,
no fogo fervendo...
A
galinha foi p´ra outro,
Eu
fiquei chorando e vendo!
Minha
galinha pintada...
Ai!
Meu galo carijó...
Morreu
a minha galinha,
Ficou
o meu galo só.
Minha
Galina pintada...
Com
tão bonito sinal!
Meu
compadre me roubou
Pelo
fundo do quintal.
Minha
galinha morta
Bicho
do mato comeu:
Fui
ao mato ver as penas,
Dobradas
penas me deu.
A
galinha e a mulher
Não
se deixam passear:
A
galinha o bicho come...
A
mulher dá que falar!
Eu
vi a galinha morta,
A
mesa já estava posta;
Chega,
chega, minha gente,
A
galinha é p´ra quem gosta!
Minha
galinha pintada,
Pontas
d´asas amarelas:
Também
serve de remédio
P´ra
quem tem dor de canelas...
***
A POLCA MANCADA
A
mancada ´sta doente,
Muito
mal, para morrer;
Não
há frango nem galinha
Para
a mancada comer.
A
dita polca mancada
Tem
mau modo de falar:
De
dia corre co´a gente,
À
noite manda chamar.
A
mancada está doente,
Muito
mal, para morrer;
Na
botica tem remédio
P´ra
mancada beber.
***
QUERO-MANA
Tão
bela flor digo agora,
Tão
bela flor quero-mana.
Que
passarinho é aquele
Que
está na flor da banana.
Co´o
biquinho dá-lhe, dá-lhe,
Co´as
asinhas, quero-mana!
Tão
bela flor digo agora,
Tão
bela flor quero-mana.
Que
eu ando neste fado,
A
própria sombra m´engana.
Tão
bela flor quero-mana,
As
barras do dia aí vêm.
Os
galos já estão cantando.
Os
passarinhos também.
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