DESENCONTROS
não
tenho medo de ser simples
tenho
medo de ser oco
de
ser raso
não
tenho medo do esquecimento
tenho
medo da lembrança feita de mágoa
do
rancor
não
tenho medo da rotina
da
crise de meia-idade
da
constância dos funerais
das
mesmas conversas
dos
mesmos amigos
tenho
medo do verão
tenho
medo da saudade
tenho
medo dos caminhos que não segui
das
escolhas que não fiz
dos
desencontros
***
DIREITO PRESCRITO
nasci
com
defeito de fábrica
defeito
na alma
minha
mãe não notou
meu
pai não notou
ninguém
notou
só
perceberam
quando
achei de me remendar
me
colar
me
parafusar
aí
já era tarde
***
Cinema
novo
cresci
numa cidade
onde
não havia mais cinemas
planos
sequências se repetiam nas ruas
nos
becos
projetados
nos muros
cardinales
bonitas
se
revezavam
no
curta-metragem
da
minha infância
cresci
numa cidade
onde
não havia quase nada
apenas
história para lembrar
A doce saudade de estar onde não se esteve, rememorar silêncios saboreando horas mornas e balouçar de redes...!
ResponderExcluirBelos, poeta, como tua alma o é!