Soneto
II
Quando,
c'os olhos míopes, eu sigo
Esta vida que sempre nos ilude,
Como a dama, ao passar um ataúde,
Tenho ataques de nervos, meu amigo.
Logo ao nascer, arrancam-nos o umbigo;
Depois, a vara inspira-nos virtude,
E, ao amor dedicando a juventude,
Pomos as nossas costas em perigo.
Casamos... que tolice! O ano inteiro
Em inútil suor banha-se a testa,
Que a mulher nos dá cabo do dinheiro.
A velhice mil mágoas nos empresta;
Só do tabaco nos agrada o cheiro;
Chega a morte de foice e... acaba a festa.
Esta vida que sempre nos ilude,
Como a dama, ao passar um ataúde,
Tenho ataques de nervos, meu amigo.
Logo ao nascer, arrancam-nos o umbigo;
Depois, a vara inspira-nos virtude,
E, ao amor dedicando a juventude,
Pomos as nossas costas em perigo.
Casamos... que tolice! O ano inteiro
Em inútil suor banha-se a testa,
Que a mulher nos dá cabo do dinheiro.
A velhice mil mágoas nos empresta;
Só do tabaco nos agrada o cheiro;
Chega a morte de foice e... acaba a festa.
***
Beijo de Mãe
Beijo de Mãe
Quando
meu peito continha
Um coração inocente,
No regaço providente
De minha mãe repousei:
Ela, então, mal respirando,
Beijou-me, e eu acordei...
Depois, no peito bateu-me
O coração, violento:
Comovida, sem alento,
Outra mulher me beijou:
Esse férvido contato
Que eternidade selou!
Agora, tenho saudades
De meu berço, entre mil ais;
Lembro os risos maternais
E aquele afago inocente,
Porque, em lábios de mulher,
Só beijo de mãe não mente.
Um coração inocente,
No regaço providente
De minha mãe repousei:
Ela, então, mal respirando,
Beijou-me, e eu acordei...
Depois, no peito bateu-me
O coração, violento:
Comovida, sem alento,
Outra mulher me beijou:
Esse férvido contato
Que eternidade selou!
Agora, tenho saudades
De meu berço, entre mil ais;
Lembro os risos maternais
E aquele afago inocente,
Porque, em lábios de mulher,
Só beijo de mãe não mente.
***
O Sobrado
O Sobrado
Do
céu à luz decadente
Contemplai esse sobrado
Que na face do presente
Lança o escárnio do passado:
Seu vulto negro ali está,
Nas trevas nódoa mais densa
Como sacrílega ofensa
Em alma perdida já.
Ei-lo! É no térreo degredo
Moço poeta a cismar,
Imóvel, como o penedo
Que escuta as vozes do mar.
Ei-lo aí! Dilacerado
Livro que o aquilão abriu,
E os segredos do passado
Aos meus olhos descobriu.
Esse teto quantos sonhos
Não abrigou de ventura!
Ai! quantos votos risonhos
Hoje o vento inda murmura!
Tristeza aqui não sentis?
Nestas lôbregas paredes
Tocante história não ledes
De alguma época feliz?
Apagou-lhe os caracteres
O tempo no andar veloz,
Imagem desses prazeres
Que deixam remorso após.
Passaste, oh quadra de amores,
Como o fumo em espiral,
E, perdendo tuas flores,
Secaste, pobre rosal.
Como em uma alma abatida
Por paterna maldição,
No que foi templo de vida
Hoje impera a solidão.
Aqui, a lira inquieta
Furta-se aos cantos de amor,
Embarga a voz do poeta
Um acréscimo de dor.
O homem sonha monumentos
E só ruínas semeia,
Para pousada dos ventos;
Como os palácios de areia
Dos seus brincos infantis,
Mal divisa o que apetece,
Que tudo se desvanece...
Feliz quem amou! Feliz!
Contemplai esse sobrado
Que na face do presente
Lança o escárnio do passado:
Seu vulto negro ali está,
Nas trevas nódoa mais densa
Como sacrílega ofensa
Em alma perdida já.
Ei-lo! É no térreo degredo
Moço poeta a cismar,
Imóvel, como o penedo
Que escuta as vozes do mar.
Ei-lo aí! Dilacerado
Livro que o aquilão abriu,
E os segredos do passado
Aos meus olhos descobriu.
Esse teto quantos sonhos
Não abrigou de ventura!
Ai! quantos votos risonhos
Hoje o vento inda murmura!
Tristeza aqui não sentis?
Nestas lôbregas paredes
Tocante história não ledes
De alguma época feliz?
Apagou-lhe os caracteres
O tempo no andar veloz,
Imagem desses prazeres
Que deixam remorso após.
Passaste, oh quadra de amores,
Como o fumo em espiral,
E, perdendo tuas flores,
Secaste, pobre rosal.
Como em uma alma abatida
Por paterna maldição,
No que foi templo de vida
Hoje impera a solidão.
Aqui, a lira inquieta
Furta-se aos cantos de amor,
Embarga a voz do poeta
Um acréscimo de dor.
O homem sonha monumentos
E só ruínas semeia,
Para pousada dos ventos;
Como os palácios de areia
Dos seus brincos infantis,
Mal divisa o que apetece,
Que tudo se desvanece...
Feliz quem amou! Feliz!
Gostei!
ResponderExcluirÉ bom encontrar um blog desse tipo
Me encontre em : DE LA VÉRITÉ
ÓTIMOS POEMAS DE PAULO EIRÓ
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