segunda-feira, 30 de novembro de 2015

PATRÍCIA HOFFMANN (1975 - )


Nascida em São Paulo, a poeta Patrícia Claudine Hoffmann mora em Santa Catarina desde os seis anos de idade. Fez o curso de letras em Joinville e trabalha como professora de língua portuguesa. Sua estreia em livro deu-se com a coletânea Água Confessa, publicada em 2001. Veio em seguida o título Sete Silêncios (2004), um trabalho focado no silêncio e no número sete. São sete capítulos (silêncios), cada qual contendo sete poemas. Esse último livro também foi publicado em formato digital e está disponível desde 2010 no site Bookess








VIOLINO-MARINHO

A infância coleciona
coisas pequenas.
Ele guardava em segredo
uma miniatura do mar.
Dentro dela morava um
violino-marinho
com quem ele costumava
chorar
durante toda a chuva.
Chorar de brinquedo.


***


REFÚGIOS PARA GUARDAR MEU PAI

                                                                        in memoriam


A saudade desenha seus estiletes, pai.
De dentro para fora.

Teus molinetes, agora
ornamentam a casa
com inconformável beleza:
procuram tua pesca.

Nenhuma fresta entre nós.
Nenhuma isca.

Na antifesta de estar,
o mar desfeito
não comemora comigo:
estamos sós.

E não há pacto
de anzóis que capture
a precocidade de tua ausência
ou te devolva
como devolvíamos os peixes para a água.
— Lembras?

Apareceram uns cansaços nas paredes.
Onde antes teu descanso
sobre o dorso das redes,
agora memórias rendadas
avarandam a chuva
em chamamento.

Enquanto o vento motiva algum sol,
embala-me ainda teu riso
nos braços já fracos
da infância.

— As tarrafas cresceram, pai.
Ainda não aprendi a dobrá-las.



***


[NÃO PROCURES O AMOR]

Não procures o amor
na solidez de teu vazio.
O tal de Amor quando se perde
deixa rastros de navio.
Por isso às vezes choro,
às vezes.

Um comentário: