domingo, 27 de dezembro de 2015

LUIZ ANTÔNIO VALVERDE (1951 - )

Luiz Antônio Valverde é duplamente graduado em Letras, Inglês e Francês, pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), onde se tornou Especialista em Linguística Aplicada à Língua Inglesa, e Mestre em Literatura e Diversidade Cultural. Doutorou-se em Teoria da Literatura, pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e é professor adjunto da Universidade Estadual de Feira de Santana. Participou da Revista Hera, de Feira de Santana, e, apesar da experiência de vida e poesia, só publicou seus livros de poemas, O exercício da loucura (Edições Cordel, 2005) e A arte de brincar com a poesia (Via Litterarum, Itabuna, 2013), no começo deste século. 







Travessia


 Pasmo de beira de rio
sofrendo vagar,
pelo que está no meio,
o impossível.

Na terceira margem do adeus
vasto céu, a suprema intriga,
onde sabemos que achar
é não ocultar o homem,
mas expô-lo por inteiro e perdido,
paralisado na travessia.




***


Bucolismo


Tens o perfume encantado.
Adoro o que ornas,
e ora renegas, amor,
louco amor,
que, de fato, renegar
é um exercício
de glórias.
Por trás do monte de feno,
ao relento, nos engalfinhamos
e o que mordes, não dói.
Afinal,
não temos como fugir
à vida
pequenas canções,
respingos de chuva.





***





Rito de passagem



Não esperem por mim.
Ante o sol que me desperta,
não desespero, ou antes
folgo em saber-me que, embora triste,
insista nas coisas que falam ao coração.

Pela manhã
o vento quente vem trazer-me alento,
eu dentro e fora do mundo,
acalento ilusões.

Visitei a cidade
nunca dantes conhecida,
a não ser de passagem,
mirada pela distância
entre eu e a estrela
longínqua
da minha infância.

A cidade esquecida
é a parábola da muralha,
espaços contidos, envelhecidos,
eu diminuto à sombra
fazendo tranças,
povoando traças,
sem abas ou asas, perambulando.

Mas o tempo
vira enfim abril,
ressurge a vida.
Nas primeiras chuvas,
idade da fuga,
e cumpra-se a audácia,
vale mais o que vai além da inércia,
deixa tardar a víbora sonolenta,
silenciosamente entrave.
Pessoas assim não contam
a não ser para nos empurrar
para além de nós,
e aí, já se vai por maio
surfar em águas claras, além,
do pequeno eu, arre injúria.



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