Onetaldo
de Pennafort
Caldas nasceu na cidade do Rio de Janeiro, onde cursou Direito, no
Rio por volta de 1918, que não chegou a concluir. Iniciou-se na poesia
com o livro Escombros Floridos,
publicado em 1921. Nos anos de 1920 a 1950 foi um colaborador frequente das
revistas Fon-Fon, Careta, Autores e Livros, Para
Todos e O Malho. Traduziu
diversas obras, entre elas Festas
Galantes, de Paul Verlaine (1934) e Romeu e Julieta, de Shakespeare. Homenageado, em 1955, com o prêmio
Machado de Assis, concedido pela Academia Brasileira de Letras para o conjunto
de sua obra. Sua obra poética, de tendência simbolista, tem como principais
livros: Perfume e Outros Poemas (1924),
Interior e Outros Poemas (1927), Espelho D’água (1928), Jogos da Noite (1931), Poesias (1957) e Poesia (1987).
Canção
Quando
murmuro teu nome,
a minha voz se consome
em ternura e adoração.
Quando teus olhos me olham,
parece eu se desfolham
as rosas de algum jardim>
Ò meu amor, se é preciso
eu direi que o teu sorriso
é doce como um olhar.
Mas é preciso que eu diga,
ó minha suave amiga,
isso que sinto e tu vês,
mas é preciso que eu diga?
a minha voz se consome
em ternura e adoração.
Quando teus olhos me olham,
parece eu se desfolham
as rosas de algum jardim>
Ò meu amor, se é preciso
eu direi que o teu sorriso
é doce como um olhar.
Mas é preciso que eu diga,
ó minha suave amiga,
isso que sinto e tu vês,
mas é preciso que eu diga?
***
Predileção
Amo os gestos estáticos, plasmados
numa atitude lenta de abandono;
certos olhares bêbedos de sono
e a poesia dos muros desbotados...
Amo as nuvens longínquas... o reflexo
na água dos foscos lampiões... as pontes...
a sufocação ríspida das fontes
e as palavras poéticas sem nexo.
Mas, sobretudo, eu amo esses instantes
em que, côo dois pesos foragidos,
os meus olhos se embrenham, distraídos,
na natureza — como dois amantes...
***
Cavaleiro
andante
Se
vais em busca da Fortuna, pára:
nem
dês um passo de onde estás. . . Mais certo
é
que ela venha ter ao teu deserto,
que
vás achá-la em sua verde seara.
Se
em busca vais do Amor, volta e repara
como
é enganoso aquele céu aberto:
mais
longe está, quando parece perto,
e
faz a noite da manhã mais clara.
Deixa
a Fortuna, que te está distante,
e
deixa o Amor, que teu olhar persegue
como
perdido pássaro sem ninho.
…
Porém, ó negro cavaleiro andante,
se
vais em busca da Tristeza, segue,
que
hás de encontrá-la pelo teu caminho!
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