terça-feira, 5 de janeiro de 2016

TELMO PADILHA (1930-1997)




Telmo Padilha nasceu em Itabuna, sul da Bahia. Foi jornalista e Membro da Academia de Letras de Ilhéus, por indicação de Adonias Filho. Destacou-se como poeta no cenário nacional e foi agraciado com muitos prêmios como Melhores Livros, da Câmara municipal de Itabuna (1956); 1º Concurso de Poesia - A Tarde; Prêmio Nacional de Poesia do Instituto Nacional do Livro (1975); Prêmio do Concurso Internacional de Poesia San Rocco, Itália (1976); 1º Prêmio do Concurso de Poesia Firmino Rocha, da Prefeitura Municipal de Itabuna (1981); e Prêmio Sosígenes Costa da Prefeitura Municipal de Ilhéus (1981). Poeta de reflexões existenciais, que constantemente indaga-se, questiona-se, numa linguagem repleta de sutilezas líricas. Inquieto, reafirma uma poética cuja temática indaga de forma intimista o viver, o morrer, a infância, a solidão e, ainda, sua relação com a realidade da sua terra, da cultura do cacau e do tempo que estabelece esta história que se escoa pelas frestas cotidianas. Sua poesia reside numa lírica lucidez, num abismo interior, entre a febre e insônia, expressa num processo criativo maduro e num estilo impecável.  Publicou os seguintes livros: Girassol do Espanto (1956); Ementário (1974); Onde tombam os pássaros (1974); Pássaro da Noite (1977); Canto Rouco (1977); O Rio (1977); Voo Absoluto (1977); Poesia Encontrada (1978); Travessia (1979); Punhal no Escuro (1980) e Noite contra Noite (1980), todos no melhor gênero da poesia.








Setembro


Mas se é setembro
e flores não acordam
o olhar antigo
entre as angústias presentes
e o desabrigo
das estações,
e não há caminhos
senão repartir
os passos de amanhã
sobre as mesmas sombras,
como sabê-lo se a mim chegas
por becos onde não há
mais que essas flores de agonia
nascidas da certeza
de que morrem os dias
à margem dos dias?


***



ITABUNA


Se não há montanhas,
como escalá-las?
Se não há florestas,
Com embrenhar-me
em sombras
que não estas?
Se não há o mar,
como falar de águas
e horizontes?

Sou o cantor
desta planície
e me abismo
em mim,
e desço aos outros
de mim,
e sofro os outros
de mim.



***




Os dias

Caminho
em tudo carne,
carne prisão cela
e o navio que não parte.

Os deveres, sim os deveres!
Salas, papéis, os poemas
dominicais. Chora o pássaro.

Os arcabouços, viseiras sempre
por tirar.

Passageiro de outro expresso,
o que não parte.

Voltar não é retornar
ao mesmo lugar.


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