GARÇAS
Antes não havia garças. (Antes
dos ventos).
Restos de estrelas navegavam a noite
(a nuvem escura)
e se alvejavam em seixos e ossos.
À mesma noite
acrescentam-se sombras: eram as penas
e a plumagem.
As garças não eram feitas: surgiam. Leves,
feitas de vôo
(o vôo primeiro). Garças de asas
emendadas em asas,
as garças passam penhascos, além,
os prados cinza.
O verde inda é longe. Longe, as aves
adivinham a terra.
As garças descem (como atraídas) e
sentem a primeira
sede. A água compreendida pela
sede. Jamais
a informação da água: as garças gestadas
de puro vôo.
Antes não havia garças. (Antes
dos ventos).
Restos de estrelas navegavam a noite
(a nuvem escura)
e se alvejavam em seixos e ossos.
À mesma noite
acrescentam-se sombras: eram as penas
e a plumagem.
As garças não eram feitas: surgiam. Leves,
feitas de vôo
(o vôo primeiro). Garças de asas
emendadas em asas,
as garças passam penhascos, além,
os prados cinza.
O verde inda é longe. Longe, as aves
adivinham a terra.
As garças descem (como atraídas) e
sentem a primeira
sede. A água compreendida pela
sede. Jamais
a informação da água: as garças gestadas
de puro vôo.
Nos
ventos, o olhar enfastiou-se.
As garças buscam clarão de madrugadas
(ou de crepúsculos: nenhum sinal
por distinguir a cor das horas).
As garças pisam areias virgens
(imprimem sua chegada: a cruz aberta)
beiras de charcos, beiras de lagos,
restos de mar incendiados ao meio-dia.
Às vezes, as garças se animam
com o assovio dos ventos chamando
a noite. E dançam. Dançam o passado
cravado às asas. Nunca procuram
caminhos de volta: foram apagados.
As garças buscam clarão de madrugadas
(ou de crepúsculos: nenhum sinal
por distinguir a cor das horas).
As garças pisam areias virgens
(imprimem sua chegada: a cruz aberta)
beiras de charcos, beiras de lagos,
restos de mar incendiados ao meio-dia.
Às vezes, as garças se animam
com o assovio dos ventos chamando
a noite. E dançam. Dançam o passado
cravado às asas. Nunca procuram
caminhos de volta: foram apagados.
***
AUSÊNCIA
AUSÊNCIA
Este
meu jeito estranho
de
olhar dentro de mim
e
não passar nenhum encanto ao Téo,
este
meu jeito canhoto
de
estranhar o mar, o ar, o quarto,
e
o nó, à garganta, travado
ao
elevador,
dá-me
a esperança de que nem tudo
é
meu desajeito: é tua ausência mesmo,
refletida
na curva do caminho
onde
costumavas me esperar.
***
GOIABAS BRANCAS
GOIABAS BRANCAS
Raízes
se retorcem (imitam cobras)
cravadas no chão.
A copa faz a filigrana: os vazados verdes
das folhas, geometria dos galhos.
O sol, artesão diário, confere as goiabas
pelo cheiro (a polpa e o branco da casca).
Mil passarinhos bicam o verão
da goiabeira
e gritam, fartos, de mesmo alvoroço:
“Já é-vem, já é-vem, já é-vem...”
Querem
apagar o sono da terra.
A
noite se abre aos mistérios.
As ninfas (árvores de fartos cabelos
negros) se enfeitam de jóias de prata
— goiabas brancas —
enquanto se vestem de toda lua.
Gracias pela lembrança
ResponderExcluirA data de nascimento de Maria Lúcia Martins é *21/08/1936. Falecida em +17/09/2016. Em caso de necessidade, contactar a filha Monica Martins Sampaio (facebook). Sou sobrinha-neta.
ResponderExcluirSaudades, tia avó.
ResponderExcluirFicaram as poesias, ficaram as pinturas, ficou também a saudade.