ESTAÇÕES
Um dia alguém vai ouvir
Esta brisa que ouço agora:
Verga os galhos do plátano
Leva das mãos esta folha.
Esta brisa que ouço agora:
Verga os galhos do plátano
Leva das mãos esta folha.
***
TRÍPITICO PARA FRANCIS BACON
I
Escorrendo no laranja ocre
lívido
as vísceras inutilmente exigem forma.
Do plano abstrato
e sem ritmo
onde estátuas se movem
invisíveis em suas sedas e istmos
de pele que a pálpebra deflora
o verme busca a terra
o verme busca o ventre aprazível da terra
o verme busca a terra podre
e o que ela expectora.
A imitação de ourives
em tons e cores explode:
o movimento incide sobre a matéria
e a devora
no espaço tempo agora
do anátema
no exílio da carne lúcida e viscosa
que apaga o céu da vista
e a tinta vibra disforme.
Na cruz inversa de Cimabue
mais uma vez o verme morre.
II
Escapando ao olhar,
a intensidade dissolve os corpos
na luz a pino de outro espaço.
O nervo se tenciona e une
os pedaços dos homens em um tempo parado.
O papa de Velázquez evapora
em um grito eternamente estático.
O andarilho
tenta em vão achar a porta,
a chave engastada na pata
e a seta nos mostra a luta
de dois corpos
sobre a cama em forma de átrio.
III
O tempo tem outra espessura
e corre infenso à física da luz e suas regras
quando suspenso no vazio de um plano azul,
dentro de hastes de metal
em uma jaula delgada
– a vítima abatida na vitrine
presa pela ilharga olhando o nada.
Vermelho
assim se fez o mundo.
Vermelho vivo e licoroso
o sêmen e a terra são vermelhos
quando a mente divaga
entre escombros de vida e a vida intacta
no útero
vermelho do sangue do cordeiro
vermelho que não se apreende nas cinzas da manhã
vermelho da luz noturna
vermelho da vagina e do feltro
vermelho mais que cor vibrátil
imune a qualquer ponteiro.
Homens içados em hastes
no escuro aceso
pelo toque e pelo do tato
o mundo em movimento
corpos mutilados
vêm e vão no tempo espaço
a tela virando sombra da Idéia que refrata.
O mundo como evento.
O mundo como templo
sujo e conspurcado.
Em fila indiana o gado dócil vai ser abatido
no vermelho vivo e rápido
que desfaz as linhas e contornos
do auto-retrato.
No vermelho em que o olho vê o mundo como rapto.
***
DANÇA
É inútil querer que a alma seja una.
Simulacro que aos olhos se desata
e na matéria cálida ressuma
alheia à vida e, no que morre, intacta.
Tela branca que o tempo mimetiza
em sua fluência líquida e serena,
inscrição frugal que a ave faz na brisa,
signo ancestral que aos mortais acena
do interior do âmbar resoluto,
giro dos seres que o sensível esmalta
à sombra do que fora Absoluto:
irmã do Ser Imóvel do Eleata,
dança a alma quando vive do que falta
e morre em quanto aspira ser exata.
É inútil querer que a alma seja una.
Simulacro que aos olhos se desata
e na matéria cálida ressuma
alheia à vida e, no que morre, intacta.
Tela branca que o tempo mimetiza
em sua fluência líquida e serena,
inscrição frugal que a ave faz na brisa,
signo ancestral que aos mortais acena
do interior do âmbar resoluto,
giro dos seres que o sensível esmalta
à sombra do que fora Absoluto:
irmã do Ser Imóvel do Eleata,
dança a alma quando vive do que falta
e morre em quanto aspira ser exata.
Bem desenvolvido este seu blog, que divulga a are poética Brasileira.
ResponderExcluirwwwsabereducar.blogspot.com