quinta-feira, 17 de novembro de 2011

RODRIGO PETRÔNIO

Rodrigo Petronio nasceu em 1975, em São Paulo. Mora em Santo André. Formou-se em Letras pela USP, onde atualmente desenvolve projeto de mestrado em Literatura Espanhola sobre a obra de Luis de Góngora. Trabalha com tradução e edição de livros. Escreveu textos críticos para a revista Bravo! e para sites de literatura. Atualmente colabora com regularidade para a revista virtual Trópico e os jornais Rascunho, Estado de Minas, Jornal do Brasil e O Globo. No ano de 2000 recebeu o prêmio Nascente da USP nas categorias Prosa, com os livros de contos Anavarata, e Poesia, com a obra intitulada Eco, ambos inéditos. Em 2001, recebeu o prêmio Guimarães Rosa de contos, de âmbito internacional, e o prêmio Jordão Emerenciano, do Conselho Municipal de Cultura do Recife, com este livro de ensaios Transversal do Tempo. Em 2002, foi agraciado com o Prêmio Nacional Cataratas, promovido pela cidade de Foz do Iguaçu. Tem ensaios, poemas e contos publicados nas revistas Cacto, Agulha, Banda Hispânica, Cult, Gargântua, Loquens, Lagartixa, Teresa e Magma. É autor do livro de poemasHistória Natural, publicado pelo selo Gargântua.




ESTAÇÕES


Um dia alguém vai ouvir
Esta brisa que ouço agora:

Verga os galhos do plátano
Leva das mãos esta folha.

***

TRÍPITICO PARA FRANCIS BACON

 
I
Escorrendo no laranja ocre
lívido
          as vísceras inutilmente exigem forma.
Do plano abstrato
e sem ritmo
onde estátuas se movem
invisíveis em suas sedas e istmos
de pele que a pálpebra deflora
o verme busca a terra
o verme busca o ventre aprazível da terra
o verme busca a terra podre
e o que ela expectora.

A imitação de ourives
em tons e cores explode:
o movimento incide sobre a matéria
e a devora
no espaço tempo agora
   do anátema
no exílio da carne lúcida e viscosa
que apaga o céu da vista
e a tinta vibra disforme.

Na cruz inversa de Cimabue
mais uma vez o verme morre.


II

Escapando ao olhar,
a intensidade dissolve os corpos
na luz a pino de outro espaço.
O nervo se tenciona e une
os pedaços dos homens em um tempo parado.
O papa de Velázquez evapora
em um grito eternamente estático.
O andarilho
                    tenta em vão achar a porta,
a chave engastada na pata
e a seta nos mostra a luta
de dois corpos
                         sobre a cama em forma de átrio.


III

O tempo tem outra espessura
e corre infenso à física da luz e suas regras
quando suspenso no vazio de um plano azul,
dentro de hastes de metal
                                          em uma jaula delgada
– a vítima abatida na vitrine
presa pela ilharga olhando o nada.

Vermelho
assim se fez o mundo.
Vermelho vivo e licoroso
o sêmen e a terra são vermelhos
quando a mente divaga
entre escombros de vida e a vida intacta
no útero
               vermelho do sangue do cordeiro
vermelho que não se apreende nas cinzas da manhã
vermelho da luz noturna
vermelho da vagina e do feltro
vermelho mais que cor vibrátil
imune a qualquer ponteiro.

Homens içados em hastes
no escuro aceso
                          pelo toque e pelo do tato
o mundo em movimento
corpos mutilados
                             vêm e vão no tempo espaço
a tela virando sombra da Idéia que refrata.
O mundo como evento.
O mundo como templo
sujo e conspurcado.
Em fila indiana o gado dócil vai ser abatido
no vermelho vivo e rápido
que desfaz as linhas e contornos
do auto-retrato.

No vermelho em que o olho vê o mundo como rapto.


***


DANÇA


É inútil querer que a alma seja una.
Simulacro que aos olhos se desata
e na matéria cálida ressuma
alheia à vida e, no que morre, intacta.

Tela branca que o tempo mimetiza
em sua fluência líquida e serena,
inscrição frugal que a ave faz na brisa,
signo ancestral que aos mortais acena

do interior do âmbar resoluto,
giro dos seres que o sensível esmalta
à sombra do que fora Absoluto:

irmã do Ser Imóvel do Eleata,
dança a alma quando vive do que falta
e morre em quanto aspira ser exata.

Um comentário:

  1. Bem desenvolvido este seu blog, que divulga a are poética Brasileira.
    wwwsabereducar.blogspot.com

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