terça-feira, 29 de novembro de 2011

RAIMUNDO CORREA (1859-1911)


Nasceu a bordo do navio São Luís, ancorado em águas maranhenses. Filho de família de classe elevada, foram seus pais o desembargador José da Mota de Azevedo Correia e Maria Clara Vieira da Mota de Azevedo Corrêa ambos naturais do Maranhão. Seu pai descendia dos Duques de Caminha e era filho de pais portugueses. Realizou o curso secundário no Colégio pedro II, no Rio de Janeiro.

Em 1882 formou-se advogado pela Faculdade do Largo de São Francisco, desenvolvendo uma bem-sucedida carreira como Juiz de Direito no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. Teve um sobrinho que levou seu nome, filho de seu tio José da Mota de Azevedo Correia, Raimundo Correia Sobrinho, formado em direito e poeta como o tio, que escreveu um livro de poesias Oração aos Aflitos publicado, em 1945, pela Livraria José Olympio Editora.

Raimundo Correia iniciou a sua carreira poética com o livro Primeiros sonhos, revelando forte influência dos poetas românticos Fagundes Varela, casimiro de Abreu e Castro Alves. Em 1883 com o livro Sinfonias, assume o parnasianismo e passa a integrar, ao lado de Alberto de Oliveira e Olavo Bilac, a chamada "Tríade Parnasiana".

Os temas adotados por Raimundo Correia giram em torno da perfeição formal dos objetos. Ele se diferencia um pouco dos demais parnasianos porque sua poesia é marcada por um forte pessimismo, chegando até a ser sombria. Ao analisar a obra de Raimundo Correia percebe-se que há nela uma evolução. Ele iniciou sua carreira como romântico, depois adotou o parnasianismo e, em alguns poemas aproximou-se da escola simbolista.

Faleceu a 13 de setembro de 1911, em Paris, onde fora tratar da saúde.





A Cavalgada

A lua banha a solitária estrada...
Silêncio!... Mas além, confuso e brando,
o som longínquo vem se aproximando
do galopar de estranha cavalgada.

São fidalgos que voltam da caçada;
vêm alegres, vêm rindo, vêm cantando
e as trompas a soar vão agitando
o remanso da noite embalsamada...

E o bosque estala, move-se, estremece.
Da cavalgada o estrépito que aumenta
perde-se após no centro da montanha...

E o silêncio outra vez soturno desce...
E límpida, sem mácula, alvacenta,
a lua a estrada solitária banha...

***


Plena nudez 

Eu amo os gregos tipos de escultura:
Pagãs nuas no mármore entalhadas;
não essas produções que a estufa escura
das modas cria, tortas e enfezadas.

Quero em pleno esplendor, viço e frescura
os corpos nus; as linhas onduladas
livres: da carne exuberante e pura
todas as saliências destacadas...

Não quero, a Vênus opulenta e bela
de luxuriantes formas, entrevê-la
da transparente túnica através:

Quero vê-la, sem pejo, sem receios,
 os braços nus, o dorso nu, os seios 
nus... toda nua, da cabeça aos pés!

***


Banzo 

Visões que na alma o céu do exílio incuba,
mortais visões! Fuzila o azul infando...
Coleia, basilisco de ouro, ondeando
o Niger... Bramem leões de fulva juba...

Uivam chacais... Ressoa a fera tuba
dos cafres, pelas grotas retumbando, 
e a estralada das árvores, que um bando
de paquidermes colossais derruba...

Como o guaraz nas rubras penas dorme,
dorme em ninhos de sangue o sol oculto...
Fuma o saibro africano incandescente...

Vai com a sombra crescendo o vulto enorme 
do baobá... E cresce na alma o vulto
de uma tristeza, imensa, imensamente.  


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