A Cavalgada
A lua banha a solitária estrada...
Silêncio!... Mas além, confuso e brando,
o som longínquo vem se aproximando
do galopar de estranha cavalgada.
São fidalgos que voltam da caçada;
vêm alegres, vêm rindo, vêm cantando
e as trompas a soar vão agitando
o remanso da noite embalsamada...
E o bosque estala, move-se, estremece.
Da cavalgada o estrépito que aumenta
perde-se após no centro da montanha...
E o silêncio outra vez soturno desce...
E límpida, sem mácula, alvacenta,
a lua a estrada solitária banha...
***
Plena nudez
Eu amo os gregos tipos de escultura:
Pagãs nuas no mármore entalhadas;
não essas produções que a estufa escura
das modas cria, tortas e enfezadas.
Quero em pleno esplendor, viço e frescura
os corpos nus; as linhas onduladas
livres: da carne exuberante e pura
todas as saliências destacadas...
Não quero, a Vênus opulenta e bela
de luxuriantes formas, entrevê-la
da transparente túnica através:
Quero vê-la, sem pejo, sem receios,
os braços nus, o dorso nu, os seios
nus... toda nua, da cabeça aos pés!
***
Banzo
Visões que na alma o céu do exílio incuba,
mortais visões! Fuzila o azul infando...
Coleia, basilisco de ouro, ondeando
o Niger... Bramem leões de fulva juba...
Uivam chacais... Ressoa a fera tuba
dos cafres, pelas grotas retumbando,
e a estralada das árvores, que um bando
de paquidermes colossais derruba...
Como o guaraz nas rubras penas dorme,
dorme em ninhos de sangue o sol oculto...
Fuma o saibro africano incandescente...
Vai com a sombra crescendo o vulto enorme
do baobá... E cresce na alma o vulto
de uma tristeza, imensa, imensamente.
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