quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

GUILHERME DE ALMEIDA (1890-1969)

Guilherme de Andrade e Almeida (Campinas, 24 de julho de 1890 — São Paulo, 11 de julho de 1969) foi advogado, jornalista, crítico de cinema, poeta, ensaísta e tradutor brasileiro. Entre outras realizações, foi um dos maiores responsáveis pela divulgação do haikai no Brasil. Combatente na Revolução Constitucionalista de 1932. Sua obra maior de amor a São Paulo foi seu poema Nossa Bandeira. Ainda, o poema Moeda paulista Foi presidente da Comissão Comemorativa do Quarto Centenário da cidade de São Paulo. Guilherme de Almeida pertenceu só episodicamente ao movimento de 1922. Não bastasse sua produção poética, suas atitudes comprovam essa afirmação: foi o primeiro "Modernista" a entrar para a Academia Brasileira de Letras (1930). Em 1958, foi coroado o quarto "Príncipe dos Poetas Brasileiros" (depois de Bilac, Alberto de Oliveira e Olegário Mariano). Encontra-se sepultado no Mausoléu do Soldado Constitucionalista, na capital de São Paulo.




SONETO

Quando a chuva cessava e um vento fino
franzia a tarde tímida e lavada,
eu saía a brincar, pela calçada,
nos meus tempos felizes de menino.

Fazia, de papel, toda uma armada;
e, estendendo meu braço pequenino,
eu soltava os barquinhos, sem destino,
ao longo das sarjetas, na enxurrada...

Fiquei moço, e hoje sei, pensando neles,
que não são barcos de ouro os meus ideais:
são feitos de papel como aqueles,

perfeitamente, exatamente iguais...
— Que os meus barquinhos, lá se foram eles!
Foram-se embora e não voltaram mais!


***


MORMAÇO

Calor. E as ventarolas das palmeiras
e os leques das bananeiras
abanam devagar
inutilmente na luz perpendicular.
Todas as coisas são mais reais, são mais humanas:
não há borboletas azuis nem rolas líricas.
Apenas as taturanas
escorrem quase líquidas
na relva que estala como um esmalte.
E longe uma última romântica
— uma araponga metálica — bate
o bico de bronze na atmosfera timpânica.


***



FILOSOFIA
(
HAIKAI)

Lutar? Para quê?
De que vive a rosa? Em que
pensa? Faz o quê?




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