Poema natural
Abro
os olhos, não vi nada
Fecho
os olhos, já vi tudo.
O
meu mundo é muito grande
E
tudo que penso acontece.
Aquela
nuvem lá em cima?
Eu
estou lá,
Ela
sou eu.
Ontem
com aquele calor
Eu
subi, me condensei
E,
se o calor aumentar, choverá e cairei.
Abro
os olhos, vejo um mar,
Fecho
os olhos e já sei.
Aquela
alga boiando, à procura de uma pedra?
Eu
estou lá,
Ela
sou eu.
Cansei
do fundo do mar, subi, me desamparei.
Quando
a maré baixar, na areia secarei,
Mais
tarde em pó tomarei.
Abro
os olhos novamente
E
vejo a grande montanha,
Fecho
os olhos e comento:
Aquela
pedra dormindo, parada dentro do tempo,
Recebendo
sol e chuva, desmanchando-se ao vento?
Eu
estou lá,
Ela
sou eu.
***
EU TE AMO!!!
Eu
te amo
Antes
e depois de todos os acontecimentos
Na
profunda imensidade do vazio
E
a cada lágrima dos meus pensamentos.
Eu
te amo
Em
todos os ventos que cantam,
Em
todas as sombras que choram,
Na
extensão infinita do tempo
Até
a região onde os silêncios moram.
Eu
te amo
Em
todas as transformações da vida,
Em
todos os caminhos do medo,
Na
angústia da vontade perdida
E
na dor que se veste em segredo.
Eu
te amo
Em
tudo que estás presente,
No
olhar dos astros que te alcançam
Em
tudo que ainda estás ausente.
Eu
te amo
Desde
a criação das águas,
desde
a idéia do fogo
E
antes do primeiro riso e da primeira mágoa.
Eu
te amo perdidamente
Desde
a grande nebulosa
Até
depois que o universo cair sobre mim
Suavemente.
***
Cemitério
Adalgisa
Moram
em mim
Fundos
de mares, estrelas-d'alva,
Ilhas,
esqueletos de animais,
Nuvens
que não couberam no céu,
Razões
mortas, perdões, condenações,
Gestos
de amparo incompleto,
O
desejo do meu sexo
E
a vontade de atingir a perfeição.
Adolescências
cortadas, velhices demoradas,
Os
braços de Abel e as pernas de Caim.
Sinto
que não moro.
Sou
morada pelas coisas como a terra das sepulturas
É
habitada pelos corpos.
Moram
em mim
Gerações,
alegrias em embrião,
Vagos
pensamentos de perdão.
Como
na terra das sepulturas
Mora
em mim o fruto podre,
Que
a semente fecunda repetindo a vida
No
sereno ritmo da Origem.
Vida
e morte,
Terra
e céu,
Podridão,
germinação,
Destruição
e criação.
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