quinta-feira, 11 de outubro de 2012

JORGE TUFIC (1930 - )

Tufic iniciou sua educação em sua cidade de origem, transferindo-se posteriormente para Manaus, onde concluiu os estudos. Em1976, foi agraciado com o diploma "O poeta do ano", prêmio concedido pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Amazonas, em reconhecimento à sua vasta e intensa atividade literária. Tem seu nome inserido em várias antologias, entre as quais destacam-se A Nova Poesia Brasileira, organizada em Portugal por Alberto da Costa e Silva, e A novíssima Poesia Brasileira, que Walmir Ayalalançou na Livraria São José, no Rios de Janeiro, em 1965. É sócio-fundador da Academia Internacional Pré-Andina de Letras, com sede em Tabatinga, no estado do Amazonas. Fez várias conferências literárias e é membro efetivo de algumas entidades culturais, tais como: Clube da Madrugada, Academia Amazonense de Letras, União Brasileira de Escritores (Seção do Amazonas) e Conselho Estadual de Cultura. Pertenceu à equipe da página artística do Clube da Madrugada, O Jornal e do Jornal da Cultura, da Fundação Cultural do Amazonas. Colabora em vários órgãos de imprensa, com especialidade no Suplemento Literário de Minas Gerais. Jorge Tufic é o autor da letra do Hino do Amazonas, contemplado que foi com o primeiro lugar em concurso nacional promovido pelo governador José Lindoso em 1980. Agendário de sombras é sua obra mais conhecida...







SONETO INGLÊS PARA ANIBAL BEÇA


Hoje sei que o meu tempo foi de algemas.
Atado ao mundo, pássaros de areia
se largaram de mim: lestos fonemas
trazem de volta o néctar que incendeia.
Habitante da noite, volta e meia
danço e cavalgo estranhas partituras.
Onde a poesia? Látego e correia
a suíte é rosa, música e nervuras.
A lua imensa bebe, nas alturas
todo o clarão que sobe dos teus dedos.
0 mar se expande em conchas e loucuras
solos e flautas contam seus segredos.

Tenda de Omar Khayyam, quem não te habita,
salsa-songo na pauta transfinita?



***



MAKUNAÍMA RECRIA O MUNDO


Depois das águas grandes,
o mundo ficou seco e oco.
Pedaços de carvão ficaram rolando no solo,
como ecos de pedras,
vozes de rio, gemidos de fogo.
Então, Makunaíma acordou.
E do barro de sua vigília
retirou aquele homem, sua forma de barco,
seu peito cavado.

No outro lado de Roraima
seus feitos continuaram.
Homens e mulheres foram sendo mudados
em rochas, antas e javalis.
Perto de Koimelemong, um cervo
mergulha na terra a cabeça-de-pedra.
Sobre uma grande onda na Serra de Aruaiang,
pousa uma cesta de luar.
A Serra do Mel parece conduzir
um silêncio de aragem
e vai sem ter vindo.

Muitas dessas pedras se elevam
No país dos ingleses, assim como peixes
E uma cesta que imita, por baixo,
Um perfil de mulher.

A savana da Serra de Mairani
são braços, pernas e cabeça
de um ladrão de urucu.
Aí também se entreabrem umas nádegas de pedra.
Cachoeiras acima,
o movimento dos peixes adentra na rocha.

Uma pedra chamada Mutum
canta como este
 quando alguém vai morrer.
vespas gigantes construíram suas casas
e zumbem na base mais profunda da serra.

Aqui fora, Makunaíma dá os últimos retoques
Nos bichos domésticos.
Depois disso ele deita na terra molhada
e se deixa esvair em milhares de seres
que nadam para o rio. 



***



PROSPECÇÃO


Ninguém te vê.
Só os ventos te penetram.

Ninguém que esteja saciado
ou faminto
necessita de ti.

Neste exato sem nome
reintegra-te à nuvem que passa
e ao canto das aves.

o poeta, já o disse,
é um ser transparente.

Invicto. Desnecessário
entre porcos, hienas
e outros viventes

solidariamente incompletos. 






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