quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

EMÍLIO DE MENEZES (1866-1918)

Emílio Nunes Correia de Meneses (Curitiba, 4 de julho de 1866 — Rio de Janeiro, 6 de junho de 1918); jornalista e poeta brasileiro, imortal da Academia Brasileira de Letras e mestre dos soentos satíricos. 

Era filho de Emílio Nunes Correia de Meneses e de Maria Emília Correia de Meneses, único homem dentre oito irmãs. Seu pai era também um poeta. Faz seus estudos iniciais com João Batista Brandão Proença, e depois no Instituto Paranaense. Sem ser de família abastada, trabalha na farmácia de um cunhado e, ainda com dezoito anos, muda-se para o Rio de Janeiro, deixando em Curitiba a marca de uma conduta já distoante ao formalismo vigente: nas roupas, no falar e nos costumes.

Boêmio, na capital do país encontra solo fértil para destilar sua fértil imaginação, satírica como poucos. A amizade com intelectuais, entretanto, fez com que tivesse seu nome afastado do grupo inicial que fundara a Academia. Torna-se jornalista e, por intercessão do escritor Nestor Vítor, trabalha com o Comendador Coruja, afamado educador. Em 1888 casa-se com uma filha deste, Maria Carlota Coruja, com quem tem no ano seguinte seu filho, Plauto Sebastião.

Mas Emílio não estava fadado para a vida doméstica: neste mesmo ano separa-se da esposa, mantendo um romance com Rafaelina de Barros.

Autor de veros mordazes, eivados de críticas das quais não escapavam os políticos da época, mestre dos sonetos, Emílio de Meneses é portador de uma tradição - iniciada com o Brasil, em Gregório de Matos. Para Glauco Mattoso, o poeta paranaense é o principal poeta satírico brasileiro após Gregório de Matos; foi o maior satírico do soneto brasileiro. Apelidado "rei do trocadilho" e "o último boêmio", ficou também famoso por epigramas em trova. Boemia e irreverência foram, segundo consta, o motivo da má vontade de Machado quanto à admissão do gordo na Academia.

Tendo sido nomeado para o recenseamento, como escriturário do Departamento da Inspetoria Geral de Terras e Colonização, em 1890, Emílio aposta na especulação da falácia econõmica do Encilhamento, criada pelo Ministro da Fazenda Ruy Barbosa: como muitos, fez rápida fortuna, esbanja e, terminada a farsa, como todos os outros investidores, vai à falência. Não muda, entretanto, seus hábitos. Continua o mesmo boêmio de sempre, a povoar os jornais da época com suas percucientes anedotas.





A
ROMÃ

Mal se confrange na haste a corola sangrenta
e o punício vigor das pétalas descora.
Já no ovário fecundo e intumescido, aumenta
o escrínio em que retém os seus tesouros. Flora!

E ei-la exsurge a Romã. Fruta excelsa e opulenta
que de acesos rubis os lóculos colora
e à casca orbicular, áurea e eritrina ostenta
o ouro do entardecer e o paunásio da aurora!

Fruta heráldica e real, em si, traz à coroa
que o cálice da flor lhe pôs com o mesmo afago
com que a Mãe Natureza os seres galardoa!

Porém a forma hostil, de arremesso e de estrago,
lembra um dardo mortal que o espaço cruza e atroa
nos prélios ancestrais de Roma e de Cartago!


***


UM PAULISTA NARCISISTA a Amadeu Amaral


Dizem que, às vezes, quer se achar bonito,
mas, nem sendo Amadeu e sendo amado,
mas muito amado mesmo, eu não hesito:
se não é feio é bem desengraçado.

Entretanto se o vejo (isto é esquisito)
através de um soneto burilado,
e mais que belo, afirmo em alto grito,
é o próprio Apolo que lhe fica ao lado.

Mais comprido que a universal história,
este Leconte, com seu ar caipira,
me deixa uma impressão nada ilusória.

Quando ele ao alto a inspiração atira,
com a cabeça a topar no céu da glória,
é um guindaste a guindar a própria lira.
                                                                        
***


IMPRESSÕES DE VIAGEM

(a Monna Delza, que declarou que no Rio
as portas e janelas das casasnunca são fechadas)


Como é bela a mentira quando nasce
de uma formosa boca feminina!
Nem nos faz o rubor subir à face,
tanto é discreta, delicada e fina.

Se o que a Monna declara, declarasse
o Belisário Távora, imagina
o leitor que esta coisa assim ficasse,
sem protestos da crítica ferina?

À Delza agradecemos a carícia
das suas doces impressões de viagem,
nas quais não há nem sombras de malícia.

Mas cá no seio da camaradagem,
se assim fosse, que glória a da polícia
e que vergonha para a gatunagem!


Um comentário:

  1. rngraçao sou escritora,poetisa e tenhoo mesmo nome da sua mae e da minha mae linda.

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