segunda-feira, 12 de outubro de 2015

INÊS MONGUILHOTT (1958 - )


Inês Pedrosa de Araújo Monguilhott é natural Recife, Pernambuco, no entanto, morou grande parte de sua vida em João Pessoa, capital da Paraíba. Há 25 anos mora em São Paulo. Escreveu dois livros de poesia que pertencem a uma trilogia: Natural (2011) e De mim (2013), ambos publicados pela editora Ofício das Palavras. Os poemas que se seguem, pertencem ao livro final da trilogia, cujo título ainda permanece indefinido, e foram gentilmente cedidos pela autora.














ARGOS


 As coisas podem refletir,
concêntrico e ciclópico, o olhar.
Ou, desavisados, os olhos podem,
se não se mantiverem bem presos,
– sem tremular sequer um risco –
romper as superfícies
como fossem água ou ar e,
navalha ou navio,
perderem-se feito pedra
num oceano,
arrastados.


***



SARGAÇO


 Coalha a foice da praia,
e maior,
uma fluida cabeleira de morta.
Massa resfolegante imersa,
inútil messe das ondas
multidão a me enroscar as coxas.

Peixes,
olhos transfixos destes escombros sonambúlicos
aprendem a sufocar,
a suportar suas vísceras arquiteturas,
e suplicam por mais e mais.
Mais ar.

Pesa-lhes uma estúpida beleza.



***



RECOLETA


 Na iglesia del Pilar vazia, meu amigo desobedece
toca a sineta que anuncia o santíssimo.

Para certifica-se do que vê
sobe ao altar e bate os nós dos dedos
no metal do púlpito.

Nem a prata responde,
contudo, nela,
ele crê.  



Nenhum comentário:

Postar um comentário