ARGOS
As coisas
podem refletir,
concêntrico e ciclópico, o olhar.
Ou, desavisados, os olhos podem,
se não se mantiverem bem presos,
– sem tremular sequer um risco –
romper as superfícies
como fossem água ou ar e,
navalha ou navio,
perderem-se feito pedra
num oceano,
arrastados.
***
SARGAÇO
SARGAÇO
Coalha a
foice da praia,
e maior,
uma fluida cabeleira de morta.
Massa resfolegante imersa,
inútil messe das ondas
multidão a me enroscar as coxas.
Peixes,
olhos transfixos destes escombros sonambúlicos
aprendem a sufocar,
a suportar suas vísceras arquiteturas,
e suplicam por mais e mais.
Mais ar.
Pesa-lhes uma estúpida beleza.
***
RECOLETA
RECOLETA
Na iglesia del Pilar vazia, meu amigo
desobedece
toca a sineta que anuncia o santíssimo.
Para certifica-se do que vê
sobe ao altar e bate os nós dos dedos
no metal do púlpito.
Nem a prata responde,
contudo, nela,
ele crê.
Nenhum comentário:
Postar um comentário