terça-feira, 6 de dezembro de 2011

INÁCIO JOSÉ DE ALVARENGA, O ALVARENGA PEIXOTO (1742 - 1792)

Inconfidente e poeta brasileiro nascido no Rio de Janeiro, RJ, de posição mediana entre os numerosos versejadores ativos na segunda metade do século XVIII, em Minas Gerais. Estudou com os jesuítas, provavelmente em Braga, Portugal, e (1760) ingressou na Universidade de Coimbra, onde se formou, com louvor (1768). Acrescentou (1769) a seu nome literário o sobrenomePeixoto e se assinava também, como integrante da Arcádia Mineira, com os pseudônimos de Alceu e Eureste Fenício. Doutor em leis pela Universidade de Coimbra, foi juiz de Cintra e regressou ao Brasil (1775) como ouvidor de Rio das Mortes, a atual São João del-Rei. Deixando a magistratura, ficou na região, ocupando-se da lavoura e da mineração, e se casou (1781) com Bárbara Heliodora Guilhermina da Silveira, também poeta e a quem dedicou alguns de seus melhores versos. Proprietário de lavras no sul de Minas, tomou parte no famoso movimento nacionalista da Inconfidência Mineira, por discordar das pesadas taxações do reino. Em companhia de seu parente Tomás Antônio Gonzaga, foi conduzido ao presídio da Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro. Negou sua participação no movimento, mas mesmo assim foi condenado à morte, pena comutada para o degredo em Angola, onde permaneceu desterrado e morreu, no presídio de Ambaca (1792). De sua obra restam apenas alguns sonetos e uma pequena obra laudatória. Teria escrito, segundo a tradição, o drama lírico Enéias no Lácio, hoje desaparecido. Suas composições existentes, reunidas em Obras poéticas (1865) por Joaquim Norberto, foram reproduzidas por Péricles Eugênio da Silva Ramos na antologia Poesia do ouro (1964). Embora tenha escrito versos de lealdade a D. Maria I e ao Marquês de Pombal.



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Estela e Nise


Eu vi a linda Estela, e namorado
fiz logo eterno voto de querê-la;
mas vi depois a Nise, e é tão bela,
que merece igualmente o meu cuidado.

A qual escolherei, se neste estado
não posso distinguir Nise d'Estela?
Se Nise vir aqui, morro por ela;
se Estela agora vir, fico abrasado.

Mas, ah! que aquela me despreza amante,
pois sabe que estou preso em outros braços,
e esta não me quer por inconstante.

Vem, Cupido, soltar-me destes laços,
ou faz de dois semblantes um semblante,
ou divide o meu peito em dois pedaços.


***

A lástima

 
Na masmorra da Ilha das Cobras,
lembrando-se da família


Eu não lastimo o próximo perigo,
nem a escura prisão estreita e forte;
lastimo os caros filhos e a consorte,
a perda irreparável de um amigo.

A prisão não lastimo, outra vez digo,
nem o ver iminente o duro corte;
é ventura também achar a morte
quando a vida só serve de castigo.

Ah! quão depressa então acabar vira
este sonho, este enredo, esta quimera,
que passa por verdade e é mentira.

Se filhos e consorte não tivera,
e do amigo as virtudes possuíra,
só de vida um momento não quisera.


***

À Dona Bárbara Heliodora

Bárbara bela, do Norte estrela,
que o meu destino sabes guiar,
de ti ausente triste somente
as horas passo a suspirar.

Por entre as penhas de incultas brenhas
cansa-me a vista de te buscar;
porém não vejo mais que o desejo,
sem esperança de te encontrar.

Eu bem queria a noite e o dia
sempre contigo poder passar;
mas orgulhosa sorte invejosa,
desta fortuna me quer privar.

Tu, entre os braços, ternos abraços
aa filha amada podes gozar;
priva-me a estrela de ti e dela,
busca dous modos de me matar!

Um comentário:

  1. Devidamente linkado lá na Cinzas e Diamantes.

    Abraços,

    www.cinzasdiamantes.blogspot.com

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