Vacuidade
I
e olho a rodoviária...
(sempre esperas e despedidas)
percebo, no meu olhar de espanto,
o arrepio que faz a minha alma
que neles é ausência
... inexistir.
II
caminho...
gentes e gentes por mim passam
(deserto que me acompanha)
em diabólicos pensares
cada rosto é, a princípio,
este Deus que me abandona.
III
é sempre essa mesma fagulha,
a vida...
sempre esse não sei o quê
que me tortura.
IV
o tempo...
não adianta falar dele
não há propriedade, só certeza
de sua constância e indiferença
todo tempo
como a rodoviária
é sempre um eterno adeus.
V
e cada solidão é
assim
o plágio da morte
espera e ira
no itinerário inseguro...
***
OUTROS VERSOS SOB A ESPERA
O tempo levou minha crença,
Levou minha fé,
Levou as lembranças que habitavam minha sala
E levou as horas da minha esperança.
O tempo, insistentemente,
Levou-me o livro que a estante
De meu ser guardava com cautela e medo,
Esse tempo levou-me até o medo,
E outros sentimentos que me tornavam humana.
O tempo levou o meu equilíbrio
E a harmonia dos meus ornamentos,
Levou os meus segredos
E o resto do sorriso que meus lábios ensaiavam dar.
O tempo levou minhas poesias,
Minhas leituras,
Levou minha atenção,
O meu poder de chorar;
Levou até mesmo a minha nudez.
O tempo (Este tempo!)
Levou-me... A tua volta,
A lágrima e a existência.
***
Soneto que não queria existir (VI)
Toque, Amor, tua boca na minha pele
que não sou apenas o que verseja,
mas também aquele que deseja
tua presença nua a qual meu corpo adere.
que não sou apenas o que verseja,
mas também aquele que deseja
tua presença nua a qual meu corpo adere.
Seremos um, ante espelhos invejosos
(vulva, seios, carne, gozo contorcidos;
nossos corpos, voluptuosos, confundidos)
a contemplar nossos mistérios gozosos.
(vulva, seios, carne, gozo contorcidos;
nossos corpos, voluptuosos, confundidos)
a contemplar nossos mistérios gozosos.
Se amanhã não me quiseres, me esqueças!
mas, hoje, que possuas o corpo meu,
sejas minha, serei teu. Sem desavenças,
mas, hoje, que possuas o corpo meu,
sejas minha, serei teu. Sem desavenças,
que minha vontade não fique neste versejo,
pois minha boca persegue teu beijo. Nu,
apresento-me aqui: escravo do meu desejo.
Adorei o seu trabalho com as palavras. As poesias, escritas por suas mãos, ganham forma tridimensional, tornam-se esculturas divinas, seres vivos.
ResponderExcluirTento, contudo, não consigo mais ler suas poesias. Elas saem do papel, sentam-se ao meu lado e discorrem comigo.
Adoro o seu trabalho como poetisa.
ResponderExcluirTraduz perfeitamente a alma feminina.