terça-feira, 27 de dezembro de 2011

NÍVIA MARIA VASCONCELLOS (1980- )

Nívia Maria Vasconcellos nasceu em 1980 em Feira de Santana-BA. É especialista em Estudos Literários, tendo finalizado o mestrado em Literatura e Diversidade Cultural, ambos pela UEFS-BA. Publicou o livro de poesia Invisibilidade (MAC, 2002) e o livro de contos ... para não suicidar (Littera, 2006). Ganhou o 7º Festival Vozes da Terra de Feira de Santana-BA, com a música Soneto que não queria existir. Logrou, em 2008, o Prêmio CDL de Literatura, que editou e lançou seu livro Escondedouro do Amor e Outros Versos sob a Espera (CDL, 2009). Além de poetisa e contista, é professora e integrante do grupo de declamação OsBocasDo Inferno.



Vacuidade



I

e olho a rodoviária...

(sempre esperas e despedidas)

percebo, no meu olhar de espanto,
o arrepio que faz a minha alma
que neles é ausência

... inexistir.



II

caminho...

gentes e gentes por mim passam
(deserto que me acompanha)

em diabólicos pensares
cada rosto é, a princípio,

este Deus que me abandona.



III

é sempre essa mesma fagulha,

a vida...

sempre esse não sei o quê
que me tortura.



IV

o tempo...
não adianta falar dele

não há propriedade, só certeza
de sua constância e indiferença

todo tempo
como a rodoviária
é sempre um eterno adeus.



V

e cada solidão é
assim
o plágio da morte

espera e ira
no itinerário inseguro...



***





OUTROS VERSOS SOB A ESPERA


O tempo levou minha crença,
Levou minha fé,
Levou as lembranças que habitavam minha sala
E levou as horas da minha esperança.

O tempo, insistentemente,  
Levou-me o livro que a estante  
De meu ser guardava com cautela e medo,
Esse tempo levou-me até o medo,
E outros sentimentos que me tornavam humana.

O tempo levou o meu equilíbrio
E a harmonia dos meus ornamentos,
Levou os meus segredos
E o resto do sorriso que meus lábios ensaiavam dar.

O tempo levou minhas poesias,
Minhas leituras,
Levou minha atenção,
O meu poder de chorar;
Levou até mesmo a minha nudez.

O tempo (Este tempo!)
Levou-me... A tua volta,
A lágrima e a existência.


***


Soneto que não queria existir (VI) 


Toque, Amor, tua boca na minha pele
que não sou apenas o que verseja,
mas também aquele que deseja
tua presença nua a qual meu corpo adere.

Seremos um, ante espelhos invejosos
(vulva, seios, carne, gozo contorcidos;
nossos corpos, voluptuosos, confundidos)
a contemplar nossos mistérios gozosos.

Se amanhã não me quiseres, me esqueças!
mas, hoje, que possuas o corpo meu,
sejas minha, serei teu. Sem desavenças,

que minha vontade não fique neste versejo,
pois minha boca persegue teu beijo. Nu,
apresento-me aqui: escravo do meu desejo.

2 comentários:

  1. Adorei o seu trabalho com as palavras. As poesias, escritas por suas mãos, ganham forma tridimensional, tornam-se esculturas divinas, seres vivos.
    Tento, contudo, não consigo mais ler suas poesias. Elas saem do papel, sentam-se ao meu lado e discorrem comigo.

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  2. Adoro o seu trabalho como poetisa.
    Traduz perfeitamente a alma feminina.

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